Ocorre que as fibras dos tecidos que compõem vosso vestuário ficam carregadas do magnetismo peculiar dos que a usam. E, assim como vossas digitais ficam impressas no papel quando manchais os dedos de tinta, igualmente o magnetismo pessoal impregna os objetos quando há o direcionamento pela vontade educada, e também se fixam vibratoriamente nos objetos as "coordenadas físicas" dos que utilizam regularmente crucifixos, pingentes e correntes de diversos tipos de metais. Os fundamentos são idênticos aos da fluidificação da água nos centros espíritas, que tecnicamente podeis denominar de magnetização.
Na Umbanda, esses vestuários servem de verdadeiras "coordenadas vibratórias", através do magnetismo individual de cada um, para a movimentação espiritual dos socorristas até os locais em que se encontram os enfermos, como se fosse precisa posição de um ponto no espaço. Logo, não considereis um exagero de fetichismo, mas algo com fundamento no vasto campo de magnetismo.
- do livro VOZES DE ARUANDA
segunda-feira, 5 de outubro de 2015
quarta-feira, 30 de setembro de 2015
PARA PROSPERIDADE - MAGIA CIGANA
Faça uma farofa de mel sem levar ao fogo. Coloque três ovos de codorna crus, três folhinhas de louro, três cravos-da-Índia, e, ao lado da farofa, sete moedas e um cacho de uvas vermelhas. Ponha o bilhete dentro do prato ou embaixo das moedas que deverão ficar em frente a ele. A farofa deve ficar em um pote de barro. Antes de despachar a oferenda, deve deixar queimar as velas amarelas até o fim. Depois coloque tudo dentro de uma sacolinha, inclusive a cera das velas e tente deixar em frente a porta de um banco quando ele estiver fechado. Pode fazer para os ciganos, ou para Oxumarê, mas se fizer para este Orixá, tem que colocar também um pratinho com bananas fritas.
PARA HARMONIZAR SUA VIDA E ACABAR OU CORTAR OS MALES, AS INVEJAS E AS MAGIAS NEGRAS
À meia-noite de qualquer dia da lua cheia, ou nova, ou ao meio-dia, ou em jejum, quebre um ovo em água corrente, chame por Exu e peça justiça! Peça que ele abra as portas do seu caminho e destrua tudo de mal de sua vida, seja de que jeito for. Peça iluminação para este Orixá e para você. Se o seu casamento ou sua união estiverem em perigo, ou terminando, ou você quiser que tudo seja bom como antes, quebre outro ovo em outro horário e chame por Oxum e peça para ela dar um jeito em seu casamento, ou em seu amor, seja como for. Diga que você confia. Deixe o ovo escorrer todo pela água e jogue no lixo a casca sem deixar um pedacinho sequer em seu lavatório, pia ou tanque.
PARA MANTER SEMPRE RENOVADO SEU CASAMENTO OU SUA UNIÃO
1. Na primeira noite de Lua Cheia, ou no primeiro dia, pegue uma peça íntima do seu parceiro (que pode ser um lenço...), pingue três gotas do perfume que você usa e depois coloque-a dentro da sua peça com os nomes de vocês, sendo que o seu estará sempre sobre o dele. Peça à Lua Cheia para encher seu lar de amor e também seus corações. Ore à Lua e à Virgem Santíssima.
Pode fazer esta magia também na Lua Nova, pedindo a São José que renove sempre esse amor. Pode ainda pedir a Vênus, a Oxum..., a quem você preferir.
Deixe esta magia três dias embaixo da cama. Só você deve varrer seu quarto durante este período. Depois os dois devem usar as peças íntimas que, para não pegarem poeira durante estes três dias, deverão estar embrulhadas em um lenço cor-de-rosa, o qual poderá ser guardado para repetir a magia sempre que desejar.
2. Se há uma pessoa atrapalhando seu casamento ou união, pegue dois ovos, escreva, com letra vermelha, o nome da pessoa que está atrapalhando em um deles e no outro, o nome do seu parceiro. Leve para um lugar bem distante e coloque-os dentro de uma vasilha. Depois de fechá-la, diga:
"Assim como estes ovos vão chocar ou apodrecer, assim também esse relacionamento vai acabar, apodrecer!"
Ore à Mãe Terra, à Mãe Lua e à Mãe Celestial, pedindo-lhes que mantenha o seu casamento, a sua família em paz e com amor. Ao chegar em casa, acenda uma vela branca e repita o pedido.
Se você quiser, também poderá deixar um bilhetinho dentro da vasilha com a mesma mentalização, coberto com sal. Tudo deve ser escrito com letras vermelhas. (Fazer na Lua Minguante)
Se você quer desfazer um feitiço, harmonizar um ambiente, afastar invejas, mágoas, angústias... pegue um vidro branco, coloque nele nove espinhos de rosa, um prego virgem, três folhinhas de arruda, três folhinhas de alecrim, três punhados de sal grosso, sete alfinetes pequenos, nove gotas de essência de centaury e um bilhete com estes dizeres:
"Senhor Deus, Jesus Senhor, livra-me de todo o mal! São Bento, benza meu corpo! São Tiago, defenda-me com sua espada! Bruxas, Anjos, Magos, seja este feitiço para sempre enterrado e desintegrado!"
E enterrar o vidro longe da sua casa. Fazer esta magia especialmente na Lua Cheia ou em qualquer sexta-feira, menos na Santa e na Lua Minguante.
AMOR
1. Duas cocadas brancas, dois suspiros brancos, duas queijadinhas, dois quindins, pétalas de rosa branca e cor-de-rosa, dois copos de guaraná, dois peitinhos-de-moça (um tipo de doce feito maria-mole), uma folhinha de louro e bastante açúcar no bilhetinho com o pedido. Acender as velas unidas. Esta magia é para Cosme e Damião, ou para os Anjos do amor, Haniel e Anael.
2. Nos três primeiros dias da Lua Nova, ao acordar, em jejum, fique atrás da porta da rua ou do quarto (dou preferência pela porta de entrada da casa) e diga com uma chave na mão direita, que não precisa ser virgem:
"Lua Nova! Meu marido, ou namorado, ou companheiro (o nome dele ou dela) foi embora! Pelo vosso poder, pela força dos orixás, pela generosidade do Universo, abri portas e portais, e por onde aquele amor entrou, que entre outro amor uma vez mais, para que eu ame, seja feliz, tenha paz! Lua Nova! Anael, Oxum! Intercedei por mim para que eu ame e seja amada até o fim, ou sem fim. Que seja assim! Que seja assim! Que seja assim!"
Depois, ir à janela com um copo de água ou de guaraná e oferecer à Lua, pedindo licença para tomar três goles durante os quais você mentalizará Novamente seu pedido. Jogar vagarosamente o guaraná ou a água em água corrente e ir mentalizando sempre seu desejo. Caso você deseje a volta do seu antigo amor, mude os dizeres e, no fim do terceiro dia da magia, acenda duas velas rosas, amarradas com um laço de fita, com o seu nome e o dele, ou o dela.
3. Em um dia de Lua Cheia ou de Lua Nova, leve cinco maçãs à beira da praia, sendo uma delas vermelha, para Iansã. Leve ainda cinco copinhos ou tacinhas, cinco pratinhos, rosas brancas, vermelhas, cor-de-rosa e mel. Parta uma das maçãs, coloque dentro bastante mel, o seu nome e o nome do seu amor também com muito mel, e que seu nome esteja sobre o dele. Feche a maçã e peça para Iemanjá, a senhora da Lua Nova, para Oxum, a senhora da Lua Cheia, para EWa, a senhora da Lua Crescente, para Iansã, amiga de todas as Luas e esposa do fogo, do sol e dos trovões, que sua união jamais termine; que você seja sempre amada; que seu amado só tenha ouvidos, olhos, sentidos, sentimentos apenas para você. Que tudo seja tão forte que ele só consiga se realizar sexualmente e espiritualmente com você e com mais ninguém! Você deverá escrever quatro bilhetinhos individuais com os mesmos pedidos e o papel deve estar levemente perfumado. Coloque no pratinho ao lado da maçã, que deverá estar partida com mel, sem exagero, tendo ao lado pétalas de rosa brancas para Iemanjá; vermelhas para Iansã; cor-de-rosa para Oxum; e amarelas para Ewá! Coloque guaraná, champagne ou hades de maçã ou de pêssego nos copinhos ou tacinhas.
Esta magia também pode ser feita no dia do seu aniversário, no dia de Natal e no ano novo, com qualquer Lua, menos na Lua Minguante. Quando voltar para casa, acenda uma vela branca e ofereça às orixás pedindo que Olorum, Oxalá, as abençoe. Antes, tome um banho de arruda para tirar as impurezas e, ao voltar, tome um banho, colocando na água o perfume de Iemanjá, de Oxum... o que preferir. Se quiser, ao mentalizar Iemanjá e Oxum, pode mentalizar Vênus, a própria Virgem Maria, que protege as uniões felizes.
4. Esta magia é uma magia marrom, por assim dizer e você só deve fazer se de fato quiser ficar com a pessoa para sempre. Se algum dia você se desinteressar dela, durante sete Luas Novas e sete Luas Cheias, você deverá rezar para a Senhora do Desterro desterrar você do pensamento do seu ex-amor, porque já não lhe interessa mais. No primeiro dia de Lua Cheia, ou Nova, digo, a partir do primeiro dia até o sétimo, tome um banho de chuveiro, ao acordar, e mentalize tudo de bom para você e para ele. Acenda um incenso de almíscar e, depois, pegue uma fatia de presunto de carne ou de ave cru, passe por todo seu corpo, inclusive... e quando estiver passando, diga:
"Que ao comer este alimento, ele coloque em seu corpo, em seu sexo, em sua pele, em seu sangue e em sua alma, todo meu cheiro, meu sabor, desde o meu sexo ao meu coração. Que você só tenha prazer físico e espiritual comigo e com mais ninguém! Que você só tenha prazer físico e espiritual comigo e com mais ninguém! Que você só tenha prazer físico e espiritual comigo e com mais ninguém! O meu útero seja seu templo, meu coração seu altar! Só a mim você há de amar, para sempre, para sempre, para sempre!!!"
Tome outro banho de chuveiro e mentalize tudo Novamente. Vista uma roupa clara com alguma peça vermelha ou rosa forte. Leve o alimento para ser pronto e quando o colocar no fogo, diga:
"Bruxas, Orixás, Deusas do Amor e da Paixão, que meu fogo se misture a este fogo, e que ao comer esta refeição o fogo de 'fulano' se misture a estes fogos, e que seu amor seja só meu, que seu orgasmo, seu entusiasmo sejam só para mim e por mim. Que o fogo da paixão entre em seu corpo, em seu sexo, em seu coração, sempre! Só para e por mim! Que seja assim, que seja assim, que seja assim, pelo poder do Universo e na proteção de Oxum. Que nós dois sejamos um, um, um!!!"
Arrumar tudo em um prato bem bonito e, para cada alimento, faça um pedido. Quando arrumar as saladas, peça aos Anjos do Amor alegria, companhia; para o arroz, peça harmonia para os dois, clima de noivado... para o feijão, milho, trigo... tesão. Depois, enquanto estiverem jantando ou almoçando, acenda as velas unidas que podem ser brancas ou cor-de-rosa com os nomes de vocês.
Observação: Se não quiser fazer a magia toda, sempre que estiver com seu namorado, peça isso aos alimentos e acenda incenso de jasmim ou de almíscar.
5. Furar um pãozinho redondo no meio e colocar mel, um bilhetinho também salpicado de perfume ou de mel, três cravos-da-Índia, igualmente sem bolinha, três pétalas de rosa cor-de-rosa, e no pratinho em que colocar o pão, arrumar um cachinho de uvas rosadas, outro de brancas e passas brancas sem caroço. Colocar em um jardim, se for para os anjos; na beira do mar, se for para Iemanjá ou para Oxum. Pode colocar maçã cortadinha, verde, se for amor para durar; se for paixão ou um amor passageiro, vermelha. Não deixar o pãozinho aberto. Prender com uma fita e com um palitinho perfumado, que não atinja o bilhete.
6. Na primeira noite de lua cheia, ou na primeira sexta-feira (menos na lua minguante), transe com seu parceiro; limpe-o com morim branco; procure se limpar também com o mesmo morim; escreva o seu nome sobre o dele num papelzinho branco e enrole no pano. Depois ponha embaixo do colchão ou enterre num vaso de planta, dizendo:
"Apenas por mim terás entusiasmo. Apenas comigo terás orgasmo. Assim será, pelo poder de Oxum, pela força de Exu, com as bênçãos de Olorum (Céu)!"
PARA VENDAS OU PARA ATRAIR CLIENTES
Óleo de amêndoas doces, dandá-da-Costa ralado, fava de aridan ralada, fava de aiô e folhas da fortuna socadas. Misture tudo, faça uma pasta e passe nos pés, deixando por 3 horas aproximadamente. Depois, limpe cada pé com um pedaço de morim branco, um pedaço para cada pé. Coloque em um alguidar 21 moedas, 7 acaçás, 21 búzios e 7 cocadas. Cubra tudo com dendê e coloque em uma encruzilhada, oferecendo para Exu Onan, pedindo que ele lhe traga vendas, clientes, dinheiro. Que ele encaminhe seus pés sempre para a fartura e para o bem. Acenda também uma vela para ele. Os panos, com os quais você limpou os pés, deverão forrar o alguidar, mas um ao lado do outro. Esta magia deve ser feita na lua cheia. Você pode também lavar o rosto com água de côco, uma dose de licor de aniz e mel, deixe secar e depois lave com água filtrada. Pode fazer isto para ajudar a magia, ou independente dela. É muito bom usar folhas de louro no sapato, na carteira ou no bolso.
Defumador: folhas de louro secas, trigo de kibe, cravos-da-Índia e milho picado. Faça este defumador da porta para dentro e peça prosperidade.
Outra magia: coloque atrás da porta de sua casa, ou loja, um chifre de boi, um chifre bem grande e bruto; coloque dentro dele milho cozido com imburama, 6 obis, 6 orobôs, 6 folhas-da-fortuna. Peça a Oxosse que lhe traga clientes, dinheiro, sorte.
PARA QUEM SOFRE DE DORES NA COLUNA , TEM DESEQUILÍBRIO OU A COLUNA MUITO TORTA
Na lua nova ou na lua crescente, pegue um pedaço de bambu verde do tamanho da sua coluna, coloque embaixo do seu colchão até que ele seque; depois, tire do colchão, passe bastante mel, amarre uma fita vermelha no começo e outra no fim. Onde ele envergar, está o seu problema; ponha ali bastante mel, amarre outra fita vermelha no referido ponto, leve a um bambuzal e peça que volte seu equilíbrio, dizendo aos donos dos ventos que faça sua coluna tão forte como eles e que jamais algo o derrube. Chame e saúde Iansã, Xangô, enfim, os reis dos ventos e das tempestades. Pode repetir tantas vezes quantas necessárias e verá que o ponto vai sumindo ou mudando de lugar, mas diminuindo.
PARA ACALMAR UMA PESSOA QUE ESTÁ PREJUDICANDO VOCÊ DEMAIS
Coloque em uma panela de barro o nome da pessoa, escrito a lápis 7 vezes. Ponha carvão em brasa por cima e diga que a raiva de fulano por você seja queimada, esquecida, apagada. Apague as brasas com bastante mel. Em seguida, quebre uma vela acesa dentro da panela e diga o mesmo. Depois, deixe na mata ou na encruzilhada e peça a Exu que acalme a pessoa ou que a afaste de sua vida, sem mal algum para a pessoa.
PARA FAZER SUA LOJA OU SEU ESTABELECIMENTO PROSPERAREM
I - coloque em um alguidar 7 doces pretos, 7 moedas, 7 punhados de alpiste torrada, 7 gotas de azogue, 7 folhas da fortuna e um pouco de dendê. Este alguidar deverá ficar em um canto da loja, e esta magia deve ser feita na segunda-feira para o Orixá Exu. Peça a ele movimento, prosperidade para seu estabelecimento. Durante 7 segundas-feiras, este trabalho não pode ser interrompido de forma alguma e deve permanecer 24 horas; depois deste prazo, você deverá deixá-lo em um campo, em algum mato, ou em alguma encruzilhada. Coloque por cima pedaços de carne crua. Há quem coloque um pintinho, mas se você disser a Exu que não quer matar o animal e lhe pedir compreensão... tudo bem!
Um defumador para complementar: Rabo de bacalhau e açúcar mascavo. Este defumador só pode ser feito uma segunda-feira por mês.
II - cozinhe um pouco de milho que dê para fazer uma canjica pequena, como se fosse para duas pessoas; acrescente rapadura, dandá da costa ralado, um pouquinho de imburama. Às quintas-feiras, bem cedinho e em jejum, jogue um pouco desta mistura na porta do seu estabelecimento e peça a Oxosse progresso, felicidade, tudo de bom para você. Na água em que cozinhou o milho, acrescente um pouquinho de imburama e, jogando nos cantinhos da loja, repita os pedidos.
PARA AGRADAR ÀS CIGANAS RAÍSSA, TAÍSSA, OU AINDA PARA OXUM OU IEMANJÁ
Coloque em uma tigelinha de louça passas brancas, mel, pêssegos em calda, partidos ao meio, e dentro dos mesmos também mais passas, a calda por cima de tudo; se quiser, também morangos com mel por cima. Sendo para as ciganas, praia ou campo. Para Iemanjá ou Oxum, praia, cachoeira, rio. Pode colocar a tigelinhha dentro de um prato fundo e pôr flores à volta. Peça o que quiser. Ponha fitas também.
PARA AFASTAR UM MAU VIZINHO
Pegue uma cabeça de sardinha, escreva o nome do tal vizinho, pingue azougue, enrole em uma folha de losna e ponha na cabeça da sardinha. Feche bem e, à noite, jogue-a para um gato de rua ou para um cachorro (de preferência, gato) e mentalize tudo que deseja. Faça isso 3 ou 7 dias, com cabeças de sardinhas diferentes, é claro. Depois tome um banho de limpeza. Se não tiver azougue, pode colocar sal.
PARA FAZER ALGUÉM VOLTAR COM URGÊNCIA
Pegue uma cebola grande (roxa, de preferência), corte ao meio, escreva o nome do amor, coloque um ímã, um pinguinho de azogue e um pinguinho de mel, e com 21 alfinetes vá espetando a cebola e fechando. Mentalize que seu amor não coma, não beba, não durma... e o que mais quiser, enquanto não voltar com você. Depois, envolva a cebola com linha vermelha até que ela desapareça de tão amarrada, digo, envolvida. Coloque em uma panela de barro, ponha dendê fervendo e quando esfriar, enrole em um morim vermelho, recoloque na panela e ponha atrás da porta, pendurada. à meia-noite e ao meio-dia, bata com a vassoura na panela e peça que... grite bastante o nome dele e do orixá que você quer que o ajude. Ao fim do terceiro dia, deixe no mato longe de onde mora.
PARA SEU AMADO OU AMADA VOLTAR
Faça um breve com sete botões de rosa vermelha secos, dois ímãs e um Santo Antônio de madeira pequeno, daquelles que têm um filhinho nos braços, que deverá ser retirado do Santo e diga que só o recolocará em seus braços quando seu amor voltar. Faça o breve, guarde na gaveta e aguarde. Quando seu amor voltar, desfaça o breve, coloque o filhinho de volta no Santo, reze um Pai-Nosso, pedindo desculpas, e deixe o Santo na igreja, de preferência na dele. Jogue o resto do breve fora. Esta é uma magia marrom.
MAGIA PARA SE LIVRAR DO FEITIÇO DURANTE O SONO
Encha um copo com água mineral sem gás, acrescente 3 punhadinhos de sal grosso e 3 gotas de azeite virgem. Coloque na cabeceira da cama e troque de 20 em 20 dias. Todas as noites peça ao seu Anjo e ao Anjo da Noite que guardem você e que o livre dos feitiços, especialmente enquanto estiver dormindo. Depois da mentalização, diga boa noite para eles e para a Noite.
PARA AFASTAR ALGUÉM DO SEU CAMINHO, DA SUA VIDA
Leve a uma estrada 2 pés de cera e dois saquinhos de alpiste. Lá chegando, escreva na sola dos pés o nome da pessoa que você quer afastar e espalhe alpiste pelo chão. O alpiste deve ser espalhado por todos os lados, principalmente em frente dos pés. Ao espalhar, diga: "Donos deste lugar, que o dono destes pés jamais volte para me acompanhar". Diga isso até acabar de espalhar o alpiste. Depois, peça a Oxalá que abençoe e ilumine os donos da estrada, ou do lugar. Ao sair, diga: "Que o dono destes pés tenham um bom caminhar, cada vez mais distante de onde eu passar". Saia sem olhar para trás e, se possível, jamais passe por este caminho.
PEQUENA MAGIA PARA VOCÊ OBTER SUCESSO, SORTE E DINHEIRO
À meia-noite do dia 31 de dezembro, ou no dia 6 de janeiro, pegue um galhinho de arruda e passe por todo o seu corpo, mentalizando boa sorte, e que todos os seus males sejam levados para tão longe que não acertem mais voltar. Jogue o galho de arruda ao vento, pela rua, ou pela janela. Pegue grãos de arroz, de lentilha e de milho crus e ponha em um pratinho e peça dinheiro, prosperidade. No dia seguinte, leve isto para uma praia ou para perto de uma árvore frondosa. Pegue uma folha-de-louro e coloque em contato com seu corpo, pedindo sucesso, e depois guarde com você, em sua carteira ou entre suas roupas. Esta magia pode ser feita para os Reis Magos, se fizer no dia seis, ou para Oxum, se no dia 31 de dezembro. Preste bastante atenção porque ela tem 3 partes a serem feitas.
PARA DIVERSOS FINS
Vá a uma loja onde vendam produtos naturais, ou talvez nas feiras, e compre: vetiver, louro, rosa vermelha, amarela, cor-de-rosa, amor-do- -campo, patchouly e arrume um coração pequenino que até pode ser de cartolina, mas precisa ser rosa ou azul. Ponha tudo em um saquinho branco e, se quiser amor, coloque entre suas roupas; se for para dinheiro, coloque perto de suas bolsas e quando for sair, pode até colocar dentro daquela que levar, é claro. Se for para saúde, coloque embaixo do seu travesseiro ou na cabeceira da cama.
PARA TODOS OS FINS
Pegue uma pedra do rio, uma concha do mar, sete pétalas de rosa cor-de-rosa, uma folha de louro, três pétalas de rosa vermelha, peça alguém para desenhar um pentagrama, coloque em um saquinho branco e use sempre com você. Peça o que quiser sempre que tocar no talismã, pois isso será um dos seus talismãs. Quando ele estiver pronto, diga: "Você se chama Luz, Esperança, Amor, Bem! Preciso que me atenda ou me ajude."
Se quiser, pode colocar estas palavras dentro dele também. Seja feliz!
PARA FACILITAR ROMPIMENTO
2 corações de papel vermelho, 2 cordões vermelhos de 20cm, 1 furador de papel, 1 caneta preta, pétalas de rosa vermelha, 2 velas rosas e brancas, incenso de Olíbano e mirra.
Acenda as 4 velas e os incensos. Escreva seu nome e o nome dele (a) em cada um dos corações. Espalhe as pétalas sobre os corações . Pegue o coração com seu nome e dia: "Este coração é meu . Vou encontrar o amor. Vou amar e ter alegria em minha vida sem a pessoa (diga o nome dele/a). Segure os dois corações e, com o furador, faça um orifício neles, inserindo por ali os cordões. Assim comece a visualizar a separação de vocês e puxe o coração dele(a) junto com o cordão. Pendure o coração dele(a) em um lugar onde você não o veja.
SETE REZAS MÁGICAS DE ANTIGOS FEITICEIROS
I. Pela flor que com Jesus nasceu, Pelas lágrimas de Maria Imaculada, Pela cruz em que Jesus morreu, Pela hóstia consagrada, Que me livrem dos inimigos, dos perigos, De todo mal, Aqui, Aquem, Além... Amém, Amém, Amém!
II. Sete pássaros, sete alegrias. Sete luas, sete magias. Sete anjos que me protejam, Tanto nas noites quanto nos dias; E sete estrelas me iluminem, Em nome de Jesus, José e Maria. Paz na lida, paz na guia.
III. A Cruz de Cristo, o Cálice Bento, a Hóstia consagrada Estejam comigo para que não me aconteça nada! Nada! Nenhum aborrecimento, nenhum sofrimento, nenhum mal... Nada! Nada! Nada!
IV. Na estrada de Damasco, Paulo se converteu. Na estrada de Emaús, Jesus reapareceu. Seja a paz na minha lida, na estrada da minha vida.
V. A semana tem sete dias. As sete luas têm sete magias. Sete anjos de Deus me guardem, Sete estrelas do Céu me iluminem, Sete santos me acompanhem Durante as sete noites e também nos sete dias.
VI. Preto velho de Aruanda, pelos meus caminhos anda, Para do mal me livrar. A minha Fé na Umbanda, Sempre me há de salvar.
VII. São Bento, água benta! Jesus Cristo no altar. Peço que se houver mal em meu caminho, para de mim se afastar! ON! Ou amém!
Patuá de Preto Velho
Um patuá de Preto Velho pode ser utilizado para diversos fins como:
Talismãs e patuás são um conjunto de amuletos reunidos para determinado objetivo
- atrair um amor
- afastar alguma pessoa indesejável
- arrumar um emprego
- crescimento profissional
- prosperidade financeira
- passar em concursos, passar no vestibular
- proteção contra mau olhado, inveja e olho gordo
- proteção espiritual contra espíritos negativos
- cura de doenças
- estímulo de certos aspectos do ser que devem ser mudados ou ressaltados exemplo: timidez, sensualidade, emagrecimento, etc.
sexta-feira, 25 de setembro de 2015
A Concha de Caboclo - Um Oráculo Brasileiro
Conhecemos o jogo de búzios de origem africana, popularizado no Brasil pelos cultos de Orixá.
Será que existe um sistema tipicamente brasileiro, que os irmãos e irmãs de Umbanda podem utilizar?
Sim.
A Concha de Caboclo é uma forma tradicional de geomancia, utilizada por alguns mestres adivinhos da Umbanda e da Jurema (ou Catimbó) do Norte e Nordeste.
O antigo Catimbó não possuía um sistema adivinhatório, mas alguns sacerdotes e babalawos que foram iniciados no culto, sabiamente desenvolveram o sistema da “Concha de Caboclo” sob a direção das entidades espirituais da mata.
Nasceu então um sistema de doze búzios, onde respondem doze entidades de origem indígena (Caboclos), de modo semelhante ao merindilogum yorubano onde falam os Orixás.
O Oráculo possui treze significados (12 + 01), segundo as quedas das conchas e suas respectivas oferendas
LEITURA BÁSICA DAS CONCHAS E OFERENDAS RECOMENDADAS
(As leituras aqui apresentadas são apenas informativas e não mostram a totalidade deste rico sistema).
01 – Uma concha aberta:
(ou seja, a concha está com a parte serrilhada para cima ou boca do búzio): fala o Caboclo Gira-Mundo.
Uma situação de perigo avizinha-se. Evitar pessoas falsas e amigos fingidos. Possibilidade de trabalhos de feitiço feitos ao consulente.
Oferenda: passar um ovo pelo corpo e depois untá-lo com mel de abelha, deixando-o na mata. Quando fizer a oferenda, acender duas velas brancas.
02 – Duas conchas abertas:
Fala o Caboclo Pena Branca.
Muita proteção e desembaraço das situações amarradas no passado. Vitória nos negócios ou melhora nas situações que envolvem a saúde.
Oferenda: flores brancas e mel de abelha devem ser entregues na mata.
03 – Três conchas abertas:
Fala o Caboclo Sultão da Matas.
Possibilidade de problemas com a justiça e perseguições.
Oferenda: um charuto, uma garrafa de mel e outra de vinho. Entrar na mata e chamar este caboclo, ofertando os elementos acima.
04 – Quatro conchas abertas:
Fala a Cabocla Jupira.
Sendo mulher a consulente: requer cuidados e atenção com os intestinos ou problemas digestivos. Sendo homem, tomar cuidado com bebidas alcoólicas e problemas estomacais. Atenção na alimentação.
Oferenda: fazer um doce de banana com mel, colocar num alguidar de barro, enfeitar com penas e despachar ao lado de um rio dentro da mata. Junto ao alguidar, acender sete velas verdes.
05 – Cinco conchas abertas:
Fala o Caboclo Ubiratan.
Cuidar da saúde com mais regularidade. Atenção principalmente com doenças do sangue e problemas de pele.
Oferenda: tomar um banho com as seguintes ervas: gitirana, melão-de-são-caetano e junça. Cozinhar tudo e banhar-se três dias seguidos. No último dia apanhar o bagaço das ervas e despachar na mata, junto com uma garrafa de mel.
06 – Seis conchas abertas:
Fala o Caboclo Araribóia.
Prestar atenção, pois o consulente pode estar sendo enfeitiçado. Inconstância em empregos e atividades remuneradas, negócios e relacionamentos. O consulente fez muitos inimigos. Vingança em andamento.
Oferenda: neste caso recomenda-se a intervenção dos senhores Mestres e Mestras da Jurema, que aconselharão a melhor medicina espiritual.
07 – Sete conchas abertas:
Fala a Cabocla Jurema.
O consulente está sendo vítima de falsidades e deve manter-se em silêncio. Se souber algum segredo, deve calar-se totalmente. Uma surpresa, não agradável, pode ser esperada.
Oferenda: acender três velas brancas dentro de um prato branco, ao lado de um copo com água. Em outro prato, colocar flores brancas com mel e oferecer a essa cabocla na mata ou em casa.
08 – Oito conchas abertas:
Fala o Índio Jaceguai.
O consulente está sendo vítima de feitiço. Ter cuidado, pois pode cair em perigo.
Oferenda: Três ovos, mel de abelha, uma vela branca, flores brancas e uma garrafa de vinho tinto. Na mata, passar os ovos no corpo e deixar debaixo de uma grande árvore. Num prato branco, deixar os outros elementos, junto com a garrafa de vinho aberta.
09 – Nove conchas abertas:
Fala a Cabocla Uitacira.
Problemas sentimentais não resolvidos e desejo de um relacionamento feliz e harmonioso.
Oferenda: oferecer flores brancas e uma garrafa de mel de abelha a essa cabocla. Fazer isto numa mata e rezar para obter felicidade.
10 – Dez conchas abertas:
Fala a Cabocla Tupiara.
Aviso de “flechada de índio” e espírito perturbando o consulente. A “flechada” é o mais terrível feitiço conhecido pelos pajés. Esta forma de magia é pouco conhecida nas grandes cidades, porém faz grandes estragos espirituais e materiais.
Oferenda: recomenda-se o tratamento urgente com Mestres e Mestras da Jurema numa sessão especial.
11 – Onze conchas abertas:
Fala o Caboclo Uitatiara.
Se esta caída aparecer três vezes, é aviso que o problema não deve ser resolvido com o oráculo. Consultar os senhores Mestres da Jurema numa sessão para uma limpeza espiritual.
12 – Doze conchas abertas:
Fala o Caboclo Grande Pajé.
Muitos problemas circundam a vida do consulente. Tomar cuidado com situações envolvendo a justiça, imóveis e comércio em geral.
Oferenda: tomar banho de limpeza com guiné, espada-de-são-jorge, arruda e alecrim.
Caindo 12 conchas fechadas:
O jogo deve ser suspenso e somente ser refeito três dias depois. Neste período, o consulente deve tomar um banho de limpeza com ervas.
Para uma pessoa trabalhar com o oráculo das Conchas de Caboclo, ele deve ser iniciada por um mestre do jogo, também chamado de “olhador”.
A iniciação possui vários ritos especiais, como a preparação de cada concha e as oferendas para os Caboclos e Caboclas que falam no oráculo.
O futuro iniciado também deve encontrar seu “Caboclo de Jogo”, que atua como uma espécie de mensageiro, abrindo as portas astrais do sistema.
Tudo isto é passado oralmente de mestre a discípulo, como fazem ainda nossos Pajés.
Quem Foi O Caboclo das 7 Encruzilhadas?
.. E no entardecer :
E no entardecer do dia 21 de setembro de 1761, na Praça do Rossio, no centro de Lisboa, um santo foi queimado na fogueira dos hereges. Gabriel Malagrida entregou a alma a Deus e o corpo aos carrascos. Tinha 72 anos, 30 deles passados de pés descalços peregrinando pelo Norte e Nordeste brasileiros. Ergueu igrejas e mosteiros, protegeu índios e prostitutas, caminhou mais de dez mil quilômetros entre o Pará e a Bahia. Ganhou fama de taumaturgo, milagreiro. Por ordem e trama do primeiro-ministro Marquês de Pombal, Malagrida terminou acusado de blasfêmia e heresia. Ouviu a sentença de morte no alto de uma carroça, com um barrete de palhaço na cabeça, mãos amarradas para trás e batina pintada com figuras demoníacas. Quando Pombal, ao lado do rei d. José, ordenou a execução, o padre beijou as escadas do cadafalso, virou para o povo, jurou inocência e perdoou seus acusadores. Abaixou a cabeça, ajudou ao próprio algoz a colocar a corda em seu pescoço. Na primeira puxada, o laço se rompeu e a multidão gritou assombrada. A tragédia estava adiada por alguns minutos. Homens e mulheres começaram a prece dos agonizantes, mas não terminaram a oração. Foram impedidos pelos quatro mil soldados de prontidão. ‘‘Senhor, nas vossas mãos entrego minha alma’’. Derradeiras palavras. Em poucos segundos, o padre estava enforcado pela Santa Inquisição. O carrasco acendeu a fogueira, onde o corpo queimaria toda a madrugada, velado pelos milhares de fiéis. As cinzas foram jogadas nas águas do rio Tejo. Quando o dia amanheceu, os católicos de Lisboa espalharam uma mesma notícia: o fogo não queimara o coração do mártir. A tragédia de um peregrino Padre Severino ensina aos fiéis da Paraíba os feitos de Malagrida.
Gabriel Malagrida nasceu padre:
Ainda pequeno, na cidade de Menaggio, no Norte da Itália, aprendeu com o pai Giácomo, o dom da caridade. O patriarca era médico de renome, consultado até por príncipes, mas dedicava boa parte do trabalho ao cuidado de doentes pobres que visitava nas distantes montanhas. Gabriel ia junto. Adorava estudar religião e aproveitava as férias para ensinar catecismo aos irmãos e colegas da rua. Sua brincadeira predileta era montar altar no quintal. A mãe, Ângela, chamava o filho de ‘‘o anjo da casa’’. Era morada cheia de religiosidade. Na parte nobre da casa, havia o que os Malagridas apelidaram de o ‘‘quarto do santo‘‘ por conta do teto coberto de pinturas de Nossa Senhora. O sonho do casal era ver os filhos formados padre e rezando missa ali. O projeto deu certo. Dos onze herdeiros, três viraram sacerdotes. Aos 12 anos, o pequeno Gabriel foi estudar no colégio dos padres Somascos, na cidade de Como. Não era um aluno como os outros; tinha hábitos estranhos. Mordia os dedos até sangrar e quando lhe perguntavam a razão daquilo respondia: ‘‘é para a salvação dos infiéis’’. Nascia assim o costume das penitências físicas que o acompanhou até o fim da vida. Em 1713, no seminário, em Gênova, onde se formou jesuíta com 24 anos chegava a fazer jejuns três vezes por semana. Dizia que era para refrear a natureza e guerrear contra as tréguas do corpo. Era comum ele se açoitar publicamente. Uma vez, em Salvador, na Bahia, Malagrida rezava o sermão na Matriz quando lhe apontaram um homem pecador, cheio de vícios e de ‘‘ignóbeis costumes’’. Como não conseguia, com palavras, converter o cidadão, Malagrida, então, bateu-se com o chicote até o sangue espirrar de suas costas. Ao assistir à dolorida cena, o pecador não se conteve: em lágrimas, ajoelhou-se nos pés do padre, implorando com gemidos o perdão de seus crimes.
A Seguir... você vai conhecer um pouco da biográfia do peregrino que construiu abrigos para prostitutas, fez procissões imensas, criou a Ordem do Sagrado Coração de Jesus e denunciou padres e governadores corruptos. Para conhecer vestígios deixados pelo religioso no Brasil, A nossa equipe percorreu parte das trilhas de Malagrida no Piauí, Maranhão, Ceará, Paraíba e Pernambuco. Junto com o ‘‘Aos povos de Itália não cansam meios de chegar à salvação; além-mar, pelo contrário, inúmeras nações jazem ainda nas trevas da idolatria: vamos acudir a essas almas desamparadas’’. Com esses argumentos, Gabriel Malagrida convenceu o Bispo Geral dos Jesuítas a virar missionário nas Américas. Trocava os estudos avançados de teologia e literatura pela catequese dos índios. Saiu de Lisboa e desembarcou em São Luís do Maranhão no final do ano de 1721, mas demorou dois anos até ser mandado para a primeira missão com os índios. Seus superiores preferiam o erudito religioso nas salas de aula dos seminários de jesuítas e achavam que Malagrida não estava preparado para o convívio com os arredios nativos. Depois de muitas súplicas, o padre conseguiu realizar o antigo sonho. Foi missionário indígena entre 1723 e 1729. Percorria as matas a pé, vestido com a batina preta típica dos jesuítas. Não era a melhor maneira de atravessar o interior maranhense. ‘‘Quem quer andar por essas terras tem que se proteger do mato com roupa de couro e andar sempre a cavalo ou num burro’’, ensina José Assunção e Silva, o Zé Doca, boiadeiro na região de Caxias, antiga Aldeias Altas. Nesse lugar, Malagrida passou em 1726 para catequizar os Guanarés, etnia desaparecida do Maranhão. No Século XVIII, esses índios eram numerosos e arredios ao contato com os brancos. Já haviam sofrido com os portugueses quando Malagrida iniciou o trabalho de catequese. Penou até conquistar a confiança dos Guanarés. Chegaram a decidir em assembléia que matariam o padre. Só conseguiu escapar porque na hora da excução, uma índia velha conteve o braço do nativo. ‘‘Suspende’’, gritou a mu-lher. Explicou que da última vez em que um índio matou um padre roupeta-negra, terminou devorado por vermes. Assustados, os Guanarés liberaram o jesuíta. ‘‘Dificilmente se reconhece o tipo humano nos índios moradores desta região. Abrigam-se em cavernas como as feras e alimentam-se unicamente de caça. As vezes travam-se em pelejas e então devoram os vencidos’’, descreveu Mathias Rodrigues, um dos companheiros de apostolado de Malagrida e que escreveu relatos do tempo em que os dois estiveram no Brasil. O manuscrito de Rodrigues está hoje na biblioteca dos padres boulandistas, em Bruxelas, na Bélgica, mas o professor Vitor Leonardi conseguiu cópia microfilmada da preciosidade. ‘‘É o documento mais importante sobre Malagrida’’, resume Vitor que nos próximos meses irá editar livro com a íntegra do texto. Pelas linhas escritas por Mathias Rodrigues, Malagrida ainda considerava os índios bárbaros selvagens, mas não aceitava sua escravidão. Durante os seis anos em que conviveu com tribos do Pará e do Maranhão, o jesuíta defendeu a tese de que as aldeias deveriam ficar longe do contato com os portugueses. Temia pela saúde moral e física dos nativos. Ou seja, combatia a tradição dos colonizadores que pegavam índios para trabalhar na lavoura de cana.
Em 1729, Malagrida foi retirado da missão indígena e levado para São Luís.
Primeiro Milagre...
A vida na capital não sossegou o padre. Em São Luís, iniciou nova etapa de sua jornada: a de missionário popular. Ao invés de índios, cuidava agora dos brancos, moradores da periferia. Dava aula de teologia durante a semana e aos sábados partia para os povoados vizinhos de São Luís. Era livro grosso com as rezas cotidianas que, por vezes, servia de travesseiro quando o religioso adormecia no mato. Para se proteger da floresta fechada, usava um cajado, até bem pouco tempo guardado na Itália como relíquia e apelidado de ‘‘o bordão do peregrino’’ ‘‘Malagrida era pregador carismático’’, explica Miguel Martins Filho, 39 anos, padre, professor de literatura e diretor do Instituto Gabriel Malagrida, em João Pessoa. É ali que se formam todos os jesuítas brasileiros. O que Miguel chama de carisma aparece no jeito de Malagrida atrair os ouvintes. Nos dias santos em São Luís juntava os fiéis em frente a igreja e com um estadandarte nas mãos, saíam todos em procissão cantada pelas ruas da cidade. Paravam nas praças e o padre reunia o povo em volta dele. Ali, dava aula de catecismo, representava teatralmente as principais passagens bíblicas e depois interrogava a platéia sobre o assunto. Foi numa dessas pregações interativas em São Luís que Malagrida fez o que os livros tratam como seu primeiro milagre. Falava aos fiéis sobre a importância da reconciliação entre inimigos quando um dos ouvintes contou que cometera injúria mortal contra um de seus parentes. Na frente do antigo desafeto, contou que estava disposto a pedir perdão, mas o homem não quis fazer as pazes. Malagrida, indignado interferiu. ‘‘Meu irmão, não quereis perdoar ao vosso próximo para que o Senhor vos perdoe?’’. Repetiu a pergunta várias vezes, mas como o indivíduo insistia na recusa, Malagrida gritou atordoado: ‘‘Pecador, recusas a escutar o teu Deus que te convida a perdoar, não tardará que prestes conta a teu juiz da tua dureza, e sofrerás então o castigo merecido’’. Pronto, em menos de 24 horas o infeliz morreu com tiro de mão desconhecida. O povo passou a tratar Malagrida como ‘‘o profeta’’. Carregou esta fama para sua grande viagem missionária, iniciada em julho de 1735 do Maranhão até a Bahia. Primeira longa parada: Piracuruca, no norte do Piauí. ‘‘Servia de igreja aí uma vil casa de farinha com quatro paredes mal pintados por cima, cheia de morcegos. Eu mesmo dei a idéia de construir grandiosa igreja. Todos ofereceram suas esmolas’’, conta Malagrida numa carta mandada ao Bisbo do Algarve, em Portugal. Passados 262 anos, o templo de Piracuruca está de pé. Seu padre, José da Silva Ribeiro, 37 anos, vive pedindo esmolas aos moradores da cidade. Para Malagrida, o Brasil parecia uma Babilônia de pecados. Reclamava dos casamentos fora da Igreja, se horrorizava com a luxúria dos padres e se impressionava com o número de prostitutas. Nos oito dias em que passava em cada cidade, o jesuíta pregava contra os amancebados, chegava a praguejá-los. Em fevereiro de 1744, fazia missão no povoado de Várzea Nova, no interior da Paraíba, quando descobriu homem e mulher que viviam juntos há anos sem oficializar a união. Malagrida foi até a casa dos dois. Tentou convencê-los a dar um ‘‘jeito cristão’’ à história. A mulher concordou, mas o homem achou bobagem aquele falatório do padre. Malagrida renovou seus pedidos, fez pregações públicas sobre o caso, até que num dos sermões avisou que se o cidadão não mudasse de idéia se perderia para sempre. Em 24 horas, o homem morreu com uma terrível dor de cabeça. Neste mesmo povoado de Várzea Nova, a fama milagreira de Malagrida resistiu ao tempo. ‘‘Desde menina, ouço os antigos contarem que o padre Malagrida encostou a mão numa criança que morria de febre e ela ficou logo boa’’, diz Maria Salete da Silva, 58 anos, nascida na região. Ali, não há mais as curas providenciais do padre, porém quem adoece é atendido no posto de saúde de nome Gabriel Malagrida. Na frente, há uma enorme estátua de cimento do jesuíta.
Vigários do Prazer...
Durante suas expedições, Malagrida cruzou com muitos companheiros de batina fora da linha. Alguns chegavam a cobrar para rezar missa, outros conheciam os prazeres da carne. Tinham mulheres e filhos, o que para Malagrida era um escândalo sem precedentes. ‘‘Esbarrei num vigário que tinha três mancebas patentes e vinte filhos’’, denunciava o missionário em carta aos superiores. Se o barbudo Malagrida era exigente com os fiéis e religiosos, pior ainda era sua auto-cobrança. Tamanha austeridade impressionava até os poucos padres corretos das vilas por onde passava. ‘‘Depois de um sono brevíssimo, o santo padre começava a meditação. Recitadas as horas canônicas, dirigia-se ao confessional e daí por volta da hora décima da manhã, subia ao tablado e explicava a doutrina cristã. Permanecia em ação de graças até a primeira hora da tarde e até mais. Voltando a casa comia, ou poucas favas ou um pouco de leite’’, relatava em carta João Brewer, padre de Ibiapaba, cidade onde Malagrida ficou entre 5 e 17 de fevereiro de 1747. O lugar, chama-se hoje Viçosa do Ceará. Lá, no altar da igreja matriz ainda existe uma imagem de Gabriel Malagrida, de quatro palmos de altura. ‘‘Ele está vestido de São Francisco de Assis porque a imagem foi mandada para reforma e o artista adorava os franciscanos’’, explica o monsenhor Francisco das Chagas Martins, pároco da igreja há 50 anos. ‘‘Tudo aqui é antigo. Nossa igreja é a mais velha do Ceará. Foi fundada em 1602’’.
Madalenas...
O maior tormento de Malagrida eram as ‘‘mulheres da vida’’. Considerava a prostituição um dos problemas mais graves da colônia. ‘‘Naquele tempo, se uma menina perdia a virgindade, caía em desgraça na sociedade e acabava entrando para a prostituição. Malagrida sonhava em fazer alguma coisa por essas mulheres’’, conta Ilário Govoni, jesuíta italiano, morador de Terezina e autor do único livro publicado no Brasil sobre Malagrida. Chama-se O Missionário Popular do Nordeste. O desafio de ‘‘endireitar’’ prostitutas perseguiu Malagrida até 1742, quando conseguiu financiamento para construir o Convento do Sagrado Coração de Jesus em Igarassu, em Pernambuco. Ali, abrigou 40 mulheres da vida, desejosas de conversão. Saíram em romaria de João Pessoa até a cidade pernambucana. ‘‘Este asilo de Madalenas arrependidas tinha âmbito regional. Às que não podiam casar, por causa de impedimentos ou delas próprias ou dos homens com quem viviam, por já serem casados, abriam-se-lhes as portas desta casa, onde ficavam ao abrigo da miséria e de recaídas’’, escreveu o historiador Serafim Leite, no livro a História Eclesiástica no Brasil. ‘‘Hoje só aceitamos donzelas. Todas nós somos donzelas’’, apressa-se em explicar Maria Medeiros de Paula, 48 anos, e atual diretora do Convento. É freira desde os 17 anos, nunca teve namorado e não gosta muito de falar do passado de pecado das fundadoras da instituição. ‘‘Hoje, só entra na Ordem do Coração de Jesus moça virgem’’. A 60 km dali, em João Pessoa, num outro endereço com placa de Malagrida, perder a virgindade é ganhar a vida. Na rua Gabriel Malagrida, no centro da capital paraibana, funciona o baixo meretrício da cidade. ‘‘Esse Malagrida era dos nossos. Nosso santo protetor’’, brinca dona Lucila Martins, 59 anos, dona de um dos bordéis da rua.
O Triste Fim...
O triste fim do missionário em janeiro de 1754 Gabriel Malagrida embarcou para Lisboa certo de que conseguiria mais recursos para suas obras no Brasil. Enganou-se, embarcou para a morte. Famoso na corte por seu carisma de pregador, Malagrida era o confessor da rainha, o que despertava ciúmes de poderosos emergentes como Sebastião José de Carvalho, o Marquês de Pombal. Quando a rainha morreu, em 1754, Pombal virou primeiro ministro de Dom Jose I e iniciou perseguição sistemática contra Malagrida. Irritou-se profundamente quando, após o terrível terremoto de Lisboa de 1755, o religioso escreveu panfletos associando a tragédia às maldades da corte. Pombal não se conteve. Conseguiu que Malagrida fosse mandado para a cidade de Setúbal. Atentado em 3 de setembro de 1758, o rei D. José sofreu atentado quando voltava de uma farra noturna. Pombal arranjou testemunhas para envolver Malagrida no caso. No dia 9 de janeiro de 1759, Malagrida foi preso por crime de lesa majestade. Ficou numa cadeia imunda, onde usava tinta de paredes para escrever dois textos religiosos: um sobre a vida de Sant’Ana e outro sobre o retorno do Anti-Cristo. Malagrida acreditava que o apocalipse aconteceria em 1999. O incansável Pombal aproveitou para denunciar Malagrida à Inquisição como herege, mas os próprios juízes do Santo Ofício admitiram que não havia razões para condenar o religioso. Pombal, então, destituiu o presidente do Tribunal e nomeou seu próprio irmão, Paulo de Carvalho. A outra questão era a guerra guaranítica, travada no Sul do Brasil. Os jesuítas se aliaram aos índios contra os portugueses que queriam ampliar as fronteiras do país. Isso tudo não culminou apenas na morte da Malagrida. Em 1759, Pombal expulsou os jesuítas dos domínios portugueses. Foi mais longe. Em 1773, conseguiu do Papa Clemente XIV, a extinção da Companhia de Jesus em todo o mundo. A Companhia só voltou a existir em 1814 e os jesuítas só retornaram ao Brasil no final do século XIX.
E no entardecer do dia 21 de setembro de 1761, na Praça do Rossio, no centro de Lisboa, um santo foi queimado na fogueira dos hereges. Gabriel Malagrida entregou a alma a Deus e o corpo aos carrascos. Tinha 72 anos, 30 deles passados de pés descalços peregrinando pelo Norte e Nordeste brasileiros. Ergueu igrejas e mosteiros, protegeu índios e prostitutas, caminhou mais de dez mil quilômetros entre o Pará e a Bahia. Ganhou fama de taumaturgo, milagreiro. Por ordem e trama do primeiro-ministro Marquês de Pombal, Malagrida terminou acusado de blasfêmia e heresia. Ouviu a sentença de morte no alto de uma carroça, com um barrete de palhaço na cabeça, mãos amarradas para trás e batina pintada com figuras demoníacas. Quando Pombal, ao lado do rei d. José, ordenou a execução, o padre beijou as escadas do cadafalso, virou para o povo, jurou inocência e perdoou seus acusadores. Abaixou a cabeça, ajudou ao próprio algoz a colocar a corda em seu pescoço. Na primeira puxada, o laço se rompeu e a multidão gritou assombrada. A tragédia estava adiada por alguns minutos. Homens e mulheres começaram a prece dos agonizantes, mas não terminaram a oração. Foram impedidos pelos quatro mil soldados de prontidão. ‘‘Senhor, nas vossas mãos entrego minha alma’’. Derradeiras palavras. Em poucos segundos, o padre estava enforcado pela Santa Inquisição. O carrasco acendeu a fogueira, onde o corpo queimaria toda a madrugada, velado pelos milhares de fiéis. As cinzas foram jogadas nas águas do rio Tejo. Quando o dia amanheceu, os católicos de Lisboa espalharam uma mesma notícia: o fogo não queimara o coração do mártir. A tragédia de um peregrino Padre Severino ensina aos fiéis da Paraíba os feitos de Malagrida.
Gabriel Malagrida nasceu padre:
Ainda pequeno, na cidade de Menaggio, no Norte da Itália, aprendeu com o pai Giácomo, o dom da caridade. O patriarca era médico de renome, consultado até por príncipes, mas dedicava boa parte do trabalho ao cuidado de doentes pobres que visitava nas distantes montanhas. Gabriel ia junto. Adorava estudar religião e aproveitava as férias para ensinar catecismo aos irmãos e colegas da rua. Sua brincadeira predileta era montar altar no quintal. A mãe, Ângela, chamava o filho de ‘‘o anjo da casa’’. Era morada cheia de religiosidade. Na parte nobre da casa, havia o que os Malagridas apelidaram de o ‘‘quarto do santo‘‘ por conta do teto coberto de pinturas de Nossa Senhora. O sonho do casal era ver os filhos formados padre e rezando missa ali. O projeto deu certo. Dos onze herdeiros, três viraram sacerdotes. Aos 12 anos, o pequeno Gabriel foi estudar no colégio dos padres Somascos, na cidade de Como. Não era um aluno como os outros; tinha hábitos estranhos. Mordia os dedos até sangrar e quando lhe perguntavam a razão daquilo respondia: ‘‘é para a salvação dos infiéis’’. Nascia assim o costume das penitências físicas que o acompanhou até o fim da vida. Em 1713, no seminário, em Gênova, onde se formou jesuíta com 24 anos chegava a fazer jejuns três vezes por semana. Dizia que era para refrear a natureza e guerrear contra as tréguas do corpo. Era comum ele se açoitar publicamente. Uma vez, em Salvador, na Bahia, Malagrida rezava o sermão na Matriz quando lhe apontaram um homem pecador, cheio de vícios e de ‘‘ignóbeis costumes’’. Como não conseguia, com palavras, converter o cidadão, Malagrida, então, bateu-se com o chicote até o sangue espirrar de suas costas. Ao assistir à dolorida cena, o pecador não se conteve: em lágrimas, ajoelhou-se nos pés do padre, implorando com gemidos o perdão de seus crimes.
A Seguir... você vai conhecer um pouco da biográfia do peregrino que construiu abrigos para prostitutas, fez procissões imensas, criou a Ordem do Sagrado Coração de Jesus e denunciou padres e governadores corruptos. Para conhecer vestígios deixados pelo religioso no Brasil, A nossa equipe percorreu parte das trilhas de Malagrida no Piauí, Maranhão, Ceará, Paraíba e Pernambuco. Junto com o ‘‘Aos povos de Itália não cansam meios de chegar à salvação; além-mar, pelo contrário, inúmeras nações jazem ainda nas trevas da idolatria: vamos acudir a essas almas desamparadas’’. Com esses argumentos, Gabriel Malagrida convenceu o Bispo Geral dos Jesuítas a virar missionário nas Américas. Trocava os estudos avançados de teologia e literatura pela catequese dos índios. Saiu de Lisboa e desembarcou em São Luís do Maranhão no final do ano de 1721, mas demorou dois anos até ser mandado para a primeira missão com os índios. Seus superiores preferiam o erudito religioso nas salas de aula dos seminários de jesuítas e achavam que Malagrida não estava preparado para o convívio com os arredios nativos. Depois de muitas súplicas, o padre conseguiu realizar o antigo sonho. Foi missionário indígena entre 1723 e 1729. Percorria as matas a pé, vestido com a batina preta típica dos jesuítas. Não era a melhor maneira de atravessar o interior maranhense. ‘‘Quem quer andar por essas terras tem que se proteger do mato com roupa de couro e andar sempre a cavalo ou num burro’’, ensina José Assunção e Silva, o Zé Doca, boiadeiro na região de Caxias, antiga Aldeias Altas. Nesse lugar, Malagrida passou em 1726 para catequizar os Guanarés, etnia desaparecida do Maranhão. No Século XVIII, esses índios eram numerosos e arredios ao contato com os brancos. Já haviam sofrido com os portugueses quando Malagrida iniciou o trabalho de catequese. Penou até conquistar a confiança dos Guanarés. Chegaram a decidir em assembléia que matariam o padre. Só conseguiu escapar porque na hora da excução, uma índia velha conteve o braço do nativo. ‘‘Suspende’’, gritou a mu-lher. Explicou que da última vez em que um índio matou um padre roupeta-negra, terminou devorado por vermes. Assustados, os Guanarés liberaram o jesuíta. ‘‘Dificilmente se reconhece o tipo humano nos índios moradores desta região. Abrigam-se em cavernas como as feras e alimentam-se unicamente de caça. As vezes travam-se em pelejas e então devoram os vencidos’’, descreveu Mathias Rodrigues, um dos companheiros de apostolado de Malagrida e que escreveu relatos do tempo em que os dois estiveram no Brasil. O manuscrito de Rodrigues está hoje na biblioteca dos padres boulandistas, em Bruxelas, na Bélgica, mas o professor Vitor Leonardi conseguiu cópia microfilmada da preciosidade. ‘‘É o documento mais importante sobre Malagrida’’, resume Vitor que nos próximos meses irá editar livro com a íntegra do texto. Pelas linhas escritas por Mathias Rodrigues, Malagrida ainda considerava os índios bárbaros selvagens, mas não aceitava sua escravidão. Durante os seis anos em que conviveu com tribos do Pará e do Maranhão, o jesuíta defendeu a tese de que as aldeias deveriam ficar longe do contato com os portugueses. Temia pela saúde moral e física dos nativos. Ou seja, combatia a tradição dos colonizadores que pegavam índios para trabalhar na lavoura de cana.
Em 1729, Malagrida foi retirado da missão indígena e levado para São Luís.
Primeiro Milagre...
A vida na capital não sossegou o padre. Em São Luís, iniciou nova etapa de sua jornada: a de missionário popular. Ao invés de índios, cuidava agora dos brancos, moradores da periferia. Dava aula de teologia durante a semana e aos sábados partia para os povoados vizinhos de São Luís. Era livro grosso com as rezas cotidianas que, por vezes, servia de travesseiro quando o religioso adormecia no mato. Para se proteger da floresta fechada, usava um cajado, até bem pouco tempo guardado na Itália como relíquia e apelidado de ‘‘o bordão do peregrino’’ ‘‘Malagrida era pregador carismático’’, explica Miguel Martins Filho, 39 anos, padre, professor de literatura e diretor do Instituto Gabriel Malagrida, em João Pessoa. É ali que se formam todos os jesuítas brasileiros. O que Miguel chama de carisma aparece no jeito de Malagrida atrair os ouvintes. Nos dias santos em São Luís juntava os fiéis em frente a igreja e com um estadandarte nas mãos, saíam todos em procissão cantada pelas ruas da cidade. Paravam nas praças e o padre reunia o povo em volta dele. Ali, dava aula de catecismo, representava teatralmente as principais passagens bíblicas e depois interrogava a platéia sobre o assunto. Foi numa dessas pregações interativas em São Luís que Malagrida fez o que os livros tratam como seu primeiro milagre. Falava aos fiéis sobre a importância da reconciliação entre inimigos quando um dos ouvintes contou que cometera injúria mortal contra um de seus parentes. Na frente do antigo desafeto, contou que estava disposto a pedir perdão, mas o homem não quis fazer as pazes. Malagrida, indignado interferiu. ‘‘Meu irmão, não quereis perdoar ao vosso próximo para que o Senhor vos perdoe?’’. Repetiu a pergunta várias vezes, mas como o indivíduo insistia na recusa, Malagrida gritou atordoado: ‘‘Pecador, recusas a escutar o teu Deus que te convida a perdoar, não tardará que prestes conta a teu juiz da tua dureza, e sofrerás então o castigo merecido’’. Pronto, em menos de 24 horas o infeliz morreu com tiro de mão desconhecida. O povo passou a tratar Malagrida como ‘‘o profeta’’. Carregou esta fama para sua grande viagem missionária, iniciada em julho de 1735 do Maranhão até a Bahia. Primeira longa parada: Piracuruca, no norte do Piauí. ‘‘Servia de igreja aí uma vil casa de farinha com quatro paredes mal pintados por cima, cheia de morcegos. Eu mesmo dei a idéia de construir grandiosa igreja. Todos ofereceram suas esmolas’’, conta Malagrida numa carta mandada ao Bisbo do Algarve, em Portugal. Passados 262 anos, o templo de Piracuruca está de pé. Seu padre, José da Silva Ribeiro, 37 anos, vive pedindo esmolas aos moradores da cidade. Para Malagrida, o Brasil parecia uma Babilônia de pecados. Reclamava dos casamentos fora da Igreja, se horrorizava com a luxúria dos padres e se impressionava com o número de prostitutas. Nos oito dias em que passava em cada cidade, o jesuíta pregava contra os amancebados, chegava a praguejá-los. Em fevereiro de 1744, fazia missão no povoado de Várzea Nova, no interior da Paraíba, quando descobriu homem e mulher que viviam juntos há anos sem oficializar a união. Malagrida foi até a casa dos dois. Tentou convencê-los a dar um ‘‘jeito cristão’’ à história. A mulher concordou, mas o homem achou bobagem aquele falatório do padre. Malagrida renovou seus pedidos, fez pregações públicas sobre o caso, até que num dos sermões avisou que se o cidadão não mudasse de idéia se perderia para sempre. Em 24 horas, o homem morreu com uma terrível dor de cabeça. Neste mesmo povoado de Várzea Nova, a fama milagreira de Malagrida resistiu ao tempo. ‘‘Desde menina, ouço os antigos contarem que o padre Malagrida encostou a mão numa criança que morria de febre e ela ficou logo boa’’, diz Maria Salete da Silva, 58 anos, nascida na região. Ali, não há mais as curas providenciais do padre, porém quem adoece é atendido no posto de saúde de nome Gabriel Malagrida. Na frente, há uma enorme estátua de cimento do jesuíta.
Vigários do Prazer...
Durante suas expedições, Malagrida cruzou com muitos companheiros de batina fora da linha. Alguns chegavam a cobrar para rezar missa, outros conheciam os prazeres da carne. Tinham mulheres e filhos, o que para Malagrida era um escândalo sem precedentes. ‘‘Esbarrei num vigário que tinha três mancebas patentes e vinte filhos’’, denunciava o missionário em carta aos superiores. Se o barbudo Malagrida era exigente com os fiéis e religiosos, pior ainda era sua auto-cobrança. Tamanha austeridade impressionava até os poucos padres corretos das vilas por onde passava. ‘‘Depois de um sono brevíssimo, o santo padre começava a meditação. Recitadas as horas canônicas, dirigia-se ao confessional e daí por volta da hora décima da manhã, subia ao tablado e explicava a doutrina cristã. Permanecia em ação de graças até a primeira hora da tarde e até mais. Voltando a casa comia, ou poucas favas ou um pouco de leite’’, relatava em carta João Brewer, padre de Ibiapaba, cidade onde Malagrida ficou entre 5 e 17 de fevereiro de 1747. O lugar, chama-se hoje Viçosa do Ceará. Lá, no altar da igreja matriz ainda existe uma imagem de Gabriel Malagrida, de quatro palmos de altura. ‘‘Ele está vestido de São Francisco de Assis porque a imagem foi mandada para reforma e o artista adorava os franciscanos’’, explica o monsenhor Francisco das Chagas Martins, pároco da igreja há 50 anos. ‘‘Tudo aqui é antigo. Nossa igreja é a mais velha do Ceará. Foi fundada em 1602’’.
Madalenas...
O maior tormento de Malagrida eram as ‘‘mulheres da vida’’. Considerava a prostituição um dos problemas mais graves da colônia. ‘‘Naquele tempo, se uma menina perdia a virgindade, caía em desgraça na sociedade e acabava entrando para a prostituição. Malagrida sonhava em fazer alguma coisa por essas mulheres’’, conta Ilário Govoni, jesuíta italiano, morador de Terezina e autor do único livro publicado no Brasil sobre Malagrida. Chama-se O Missionário Popular do Nordeste. O desafio de ‘‘endireitar’’ prostitutas perseguiu Malagrida até 1742, quando conseguiu financiamento para construir o Convento do Sagrado Coração de Jesus em Igarassu, em Pernambuco. Ali, abrigou 40 mulheres da vida, desejosas de conversão. Saíram em romaria de João Pessoa até a cidade pernambucana. ‘‘Este asilo de Madalenas arrependidas tinha âmbito regional. Às que não podiam casar, por causa de impedimentos ou delas próprias ou dos homens com quem viviam, por já serem casados, abriam-se-lhes as portas desta casa, onde ficavam ao abrigo da miséria e de recaídas’’, escreveu o historiador Serafim Leite, no livro a História Eclesiástica no Brasil. ‘‘Hoje só aceitamos donzelas. Todas nós somos donzelas’’, apressa-se em explicar Maria Medeiros de Paula, 48 anos, e atual diretora do Convento. É freira desde os 17 anos, nunca teve namorado e não gosta muito de falar do passado de pecado das fundadoras da instituição. ‘‘Hoje, só entra na Ordem do Coração de Jesus moça virgem’’. A 60 km dali, em João Pessoa, num outro endereço com placa de Malagrida, perder a virgindade é ganhar a vida. Na rua Gabriel Malagrida, no centro da capital paraibana, funciona o baixo meretrício da cidade. ‘‘Esse Malagrida era dos nossos. Nosso santo protetor’’, brinca dona Lucila Martins, 59 anos, dona de um dos bordéis da rua.
O Triste Fim...
O triste fim do missionário em janeiro de 1754 Gabriel Malagrida embarcou para Lisboa certo de que conseguiria mais recursos para suas obras no Brasil. Enganou-se, embarcou para a morte. Famoso na corte por seu carisma de pregador, Malagrida era o confessor da rainha, o que despertava ciúmes de poderosos emergentes como Sebastião José de Carvalho, o Marquês de Pombal. Quando a rainha morreu, em 1754, Pombal virou primeiro ministro de Dom Jose I e iniciou perseguição sistemática contra Malagrida. Irritou-se profundamente quando, após o terrível terremoto de Lisboa de 1755, o religioso escreveu panfletos associando a tragédia às maldades da corte. Pombal não se conteve. Conseguiu que Malagrida fosse mandado para a cidade de Setúbal. Atentado em 3 de setembro de 1758, o rei D. José sofreu atentado quando voltava de uma farra noturna. Pombal arranjou testemunhas para envolver Malagrida no caso. No dia 9 de janeiro de 1759, Malagrida foi preso por crime de lesa majestade. Ficou numa cadeia imunda, onde usava tinta de paredes para escrever dois textos religiosos: um sobre a vida de Sant’Ana e outro sobre o retorno do Anti-Cristo. Malagrida acreditava que o apocalipse aconteceria em 1999. O incansável Pombal aproveitou para denunciar Malagrida à Inquisição como herege, mas os próprios juízes do Santo Ofício admitiram que não havia razões para condenar o religioso. Pombal, então, destituiu o presidente do Tribunal e nomeou seu próprio irmão, Paulo de Carvalho. A outra questão era a guerra guaranítica, travada no Sul do Brasil. Os jesuítas se aliaram aos índios contra os portugueses que queriam ampliar as fronteiras do país. Isso tudo não culminou apenas na morte da Malagrida. Em 1759, Pombal expulsou os jesuítas dos domínios portugueses. Foi mais longe. Em 1773, conseguiu do Papa Clemente XIV, a extinção da Companhia de Jesus em todo o mundo. A Companhia só voltou a existir em 1814 e os jesuítas só retornaram ao Brasil no final do século XIX.
SIMPLES CHARUTO DE CABOCLO
Ligia segurava o charuto do caboclo que estava a cambonar enquanto a entidade em questão participava dos trabalhos em uma roda de descarrego.
Terminada a tarefa o caboclo dirigiu-se em direção a sua cambone e pediu o charuto de volta agradecendo-a por haver segurado o seu instrumento de trabalho, mas Ligia, não se contendo de sadia curiosidade, perguntou a entidade:
— Senhor caboclo?
— Pois não fia?
— O senhor poderia esclarecer-me uma dúvida?
— Pode fazer pergunta fia!
— O que eu gostaria de saber é o seguinte: por que o senhor sempre me agradece a cada vez que eu entrego o charuto que estou segurando de volta para as suas mãos?
— Suncê quer saber fia?
— Se for possível, gostaria sim.
— Fia, antes de caboclo responder, observe a atuação da nossa linha de trabalho nesta próxima roda de descarrego, sim?
— Sim senhor!
Após trabalhar com todas as pessoas que estavam naquela roda de descarrego a entidade estendeu sua destra a fim de que sua cambone segurasse o seu charuto enquanto ele e as demais entidades que participavam dos trabalhos na roda pudessem finalizar o trabalho.
Ao término daquela roda de descarga a entidade, então, tornou junto à Ligia dizendo:
— Entrega o pito de volta para Caboclo fia!
Ligia devolveu o charuto à entidade que, então, disse-lhe:
— Este caboclo agradece por toda sua atenção.
Ligia sorriu meio que ainda sem entender o porquê daquele agradecimento e o caboclo perguntou a ela:
— E então fia? O que suncê observou do nosso trabalho junto à roda de descarrego?
— Bem, eu observei algumas coisas, mas fica difícil de dizer algo, no aspecto geral, sobre o trabalho dos caboclos em uma roda de descarrego por que cada um trabalha de um jeito diferente em cada assistência.
— Isto até que é verdade, mas o que suncê observou de semelhante no trabalho de qualquer mano caboclo lá na roda?
— A fumaça do charuto! Nenhum dos senhores trabalha sem ela!
— Muito bem observado fia!
A entidade soltava umas baforadas do seu charuto enquanto fitava o semblante de Ligia e, após alguns instantes, perguntou a ela:
— Suncê ainda não entendeu porque que caboclo lhe agradece por segurar o pito dele, não é?
— Não senhor!
— Fia suncê tem o dom para isso e é por esse motivo que caboclo vai dilatar um pouco de sua percepção sensorial.
— Sim senhor!
A entidade estalava os dedos e soltavas algumas baforadas do seu charuto por toda a cabeça de Ligia. O processo durou poucos segundos e quando terminou a entidade solicitou a Ligia que abrisse os olhos.
— Nossa senhor caboclo!
— O que foi fia?
— É que eu fiquei com um pouco de tontura.
— Não se preocupe que já, já ela passa.
— Sim senhor, na verdade ela já está passando.
— Fia este caboclo vai participar de outra roda de descarrego e pede a suncê que continue a observar pra ver se descobre o porquê do nosso agradecimento, sim?
— Sim senhor.
Quando o caboclo terminou de realizar o seu trabalho com o charuto naquela roda ele, então, estendeu o braço para Ligia que, prontamente, segurou o charuto em suas mãos.
Minutos depois de terminada mais uma roda de descarrego a entidade pediu a Ligia:
— Entrega de volta o pito pra Caboclo fia!
Ligia assim o fez e ele novamente agradeceu-a para depois perguntar:
— E agora fia? O que suncê observou do nosso trabalho na roda?
— Nossa senhor caboclo! Parecia que eu estava ficando louca!
— Por que isso fia?
— Parecia que a fumaça do charuto dos senhores funcionava perispiritualmente para os assistidos na roda como se fosse uma espécie de chuveiro que tira todas as sujeiras do corpo físico.
A entidade sorriu com a comparação de Lígia e ela prosseguiu:
— É sério Sr. Caboclo! Quando a roda de descarrego terminou alguma coisa nelas parecia que estava muito mais limpo do que antes: algumas pessoas respiravam melhor, outras estavam como se tivessem retirado um peso do coração, enfim foi muito bonito de se ver.
— Fia antes de ir para a próxima roda de descarrego este caboclo pede que suncê segure o pito dele.
E, estendendo-lhe a destra, o caboclo entregou o charuto a sua cambone solicitando:
— Fia, agora feche os seus olhos e faça uma prece ao Criador pedindo bênçãos por todos aqueles que ainda passarão pelas rodas de descarga na gira de hoje!
— Sim senhor!
Ligia fez a prece com todo o fervor de sua mente e do seu coração e, então, abriu os olhos.
A entidade, assim, disse-lhe:
— Fia este caboclo agradece por suncê ter segurado o pito dele mais uma vez e pede que suncê observe o trabalho de nós em mais uma roda de descarga para ver se agora descobre o porquê dele agradecer a suncê por segurar o pito, tudo bem?
— Sim senhor!
Quando o caboclo terminou de realizar o seu trabalho com o charuto naquela roda ele, então, estendeu o braço e Ligia, prontamente, segurou em suas mãos o charuto da entidade.
O trabalho naquela roda foi finalizado e quando a entidade aproximou-se de Lígia esta estendeu-lhe as mãos na intenção de devolver o charuto para o caboclo, mas este lhe disse:
— Deixe o pito por mais um tempo em suas mãos que na hora certa este caboclo pede de volta a suncê, sim fia?
— Sim senhor!
— Este caboclo agradece por toda sua dedicação fia e pergunta: o que suncê observou nos trabalhos da última roda que caboclo acabou de participar?
— Senhor caboclo eu realmente observei algumas coisas, mas eu peço ao senhor que, se eu houver visto demais, que o senhor fale francamente comigo como sempre o fez.
— Nossa fia Ligia! Mas por que todo este alvoroço?
— Por que se na penúltima roda que o senhor participou eu percebi que a fumaça dos charutos funciona como a água de um chuveiro, nesta última roda parece que eu vi o que funciona como uma espécie de sabão ou sabonete.
A entidade deu um discreto sorriso para sua cambone e esta tornou a dizer-lhe:
— E então Senhor caboclo? Eu vi coisa onde não existia?
— De forma alguma fia! Suncê só viu o que havia para ver!
— Nossa, mas o senhor fala isto de uma maneira tão calma!
— E qual é o espanto nisto fia?
— Por que o desconhecido assusta um pouco e eu não sei nem um pouco do que eu vi.
— Fia, mas é como suncê mesma disse antes: o que tem de assustador em se tomar uma boa ducha?
— Ducha?
— É fia ou, como suncês encarnados mesmo dizem uma boa chuveirada!
— ?????
— Fia conte pra este caboclo o que foi que suncê viu!
— Bem, enquanto o senhor dava umas baforadas em uma pessoa da roda de descarrego milhares de minúsculos seres ficavam a rodear esta assistência em questão sempre na direção da cabeça para os pés. Estas espécies de seres giravam numa velocidade absurdamente alta e direcionada como se estivessem sendo controlados por alguém a distância. Eles apareciam e sumiam como que por encanto quando o senhor terminava o trabalho em uma pessoa participante da roda de descarga e passava para outra. Bom, foi isto que eu vi.
— A fia só está se esquecendo de um detalhe fundamental em tudo que observou da participação deste caboclo na última roda de descarrego!
— Verdade?
— Fia, fale uma coisa pra este caboclo!
— Sim senhor!
— Segundo a sua observação, participar desta última roda de descarrego foi mais fácil ou mais difícil do que a penúltima em que este caboclo participou?
— Ah, é verdade! Bom quem estava na dinâmica do trabalho lá na roda é o senhor, mas para mim que observava dava a nítida impressão que o senhor conseguia realizar o trabalho com muito mais facilidade, tendo em vista que na penúltima roda parecia que o senhor se concentrava muito mais para poder fazer o seu trabalho do que nesta última.
— Não foi impressão sua fia: para este caboclo, trabalhar nesta ultima roda, foi muito mais fácil que na penúltima e você fia teve uma grande parcela de responsabilidade para que caboclo obtivesse esta facilidade.
— Eu?
— Claro fia, não é suncê que é a cambone deste caboclo?
— Sou eu sim senhor, mas não sei dizer qual foi minha contribuição!
— Pense um pouco minha filha! Qual foi a grande diferença entre a penúltima e a última vez que suncê entregou o pito para este caboclo antes dele participar das rodas?
— Na ultima vez, diferentemente da penúltima, eu fiz uma prece ao Criador pedindo bênçãos para todas as assistências que participariam das rodas. Foi isto senhor caboclo? A prece que fiz a Deus?
— Fia toda prece a Tupã é sempre muito válida em nosso trabalho de fazer a caridade, mas suncê pode relembrar para este caboclo o que suncê possuía em mãos quando proferiu a referida prece?
— Meu Deus é verdade! Em minhas mãos estava o charuto do senhor!
— Exatamente fia! E então, suncê descobriu por que caboclo agradece suncê a cada vez que pede o pito dele?
— O senhor me desculpe, mas é que eu ainda não consegui chegar lá!
— Então este caboclo não vai mais fazer mistério fia: Caboclo agradece a suncê por que a cada vez que sunce entrega o pito de volta pra ele, acaba entregando junto boa parte de sua firmeza, de sua vibração, de sua energia.
— Eu???
— Não só suncê, mas cada cambone que trabalha junto a cada mano caboclo que milita em cada terreiro de Umbanda neste mundo de Tupã Nosso Pai.
— Isto é surpreendente!
— Antes da última roda que caboclo participou suncê fez prece sentida a Tupã e entregou o pito pra caboclo trabalhar cheio destas sutilíssimas e importantíssimas vibrações do desejo de caridade ao próximo.
— Sim, mas eu devo ser sincera e dizer que só fiz isto da última vez.
— Este caboclo sabe.
— Mas se das outras vezes que eu segurava o charuto do senhor eu não fazia prece alguma por que o senhor, mesmo assim, me agradecia?
— Independente de suncê fazer preces ou não, a cada vez que suncê entrega o pito para caboclo, suncê passa muito de sua energia para ele.
— Mas e se eu não estiver com energia boa no dia da gira? Eu vou acabar passando o pito para o senhor impregnado com minhas energias não muito positivas, mesmo assim o senhor me agradeceria?
— Já houve alguma gira que suncê entregou o pito pra Caboclo e ele não lhe agradeceu?
— Não senhor!
— Mas já houve giras em que suncê veio trabalhar com uma energia não muito boa, não é verdade?
— Isto é verdade, mas então por que o senhor sempre agradece?
— Fia, na verdade, o que caboclo agradece é a oportunidade de trabalho no bem que suncês dá pra nós. Umbanda é parceria fia!
— Desculpe, mas como é?
— Parceria fia: estar juntos por um objetivo em comum. Quando suncês cambones estão bem, então suncês fazem preces ou não as fazem, mas entregam o pito para nós com as energias boas que suncês estão naquele dia para nós trabalhar em favor do próximo, não é assim?
— É sim senhor!
— Já quando é suncês que não estão bem, daí somos nós que fazemos preces ao Criador, enquanto seguramos o nosso pito, rogando que suncês possam encontrar melhoras para as dificuldades de suncês e ajudar nós a trabalhar em nome da caridade cada vez mais e melhor e daí, somente após esta prece fervorosa, é que nós entregamos o pito de volta pra suncês segurar a fim de que, captando um pouco de nossa energia que deixamos no pito, suncês consigam encontrar um pouco de lenitivo que o merecimento de suncês lhes facultar.
— Meu Deus, mas isto é lindo!
Assim exclamou Ligia com a voz embargada de emoção pungente e sincera.
— Isto é Umbanda fia e Umbanda, como caboclo disse, é parceria: quando suncê não está bem e entrega o pito impregnado de energias não muito positivas para caboclo, ele então, quando pega este pito das suas mãos, agradece a suncê pela oportunidade que suncê está dando a ele de trabalhar junto a Tupã objetivando a sua melhora energética, vibracional.
— Nossa pelo que o senhor me diz a Umbanda é parceria mesmo, hein?
— Com certeza fia e é por isso que cada vez que um mano caboclo pede o pito de volta para seus cambone ele só tem a agradecer a este.
— Mas o ideal, quando o cambone não está bem, é fazer sempre preces, pedir auxílio a alguma entidade e ficar vigilante para sua vibração não cair e, assim, dificultar o trabalho das entidades, não é assim?
— Certamente não é fia!?! Mas este caboclo sabe que a filha põe em prática aqui no terreiro muito do que acabou de perguntar pra caboclo, não é verdade?
— Infelizmente não é sempre, mas graças a Deus acaba sendo a maioria das vezes, mas...
A voz de Lígia mal conseguia sair dos seus lábios tamanha era a emoção de estar aprendendo coisas tão básicas e importantes para o bom andamento de uma gira, mas de uma forma simples e prática. Mesmo percebendo a dificuldade de Lígia em falar, devido à emotividade, o caboclo incentivou-a dizendo:
— Pode falar fia.
E, fazendo um esforço grandioso para não embargar a sua voz com uma honesta emoção, foi que Lígia disse:
— Sabe o que eu acho mais lindo na Umbanda em relação a tudo isto que o senhor acabou de revelar para mim?
— A voz de suncê está embargada não é fia? Embargada de singela emoção por contemplar a prova do que disse Jesus sobre a simplicidade da misericórdia e benevolência das coisas de Deus materializada na religião de Umbanda pela presença de um simples charuto de caboclo, não é verdade fia?
As lágrimas de agradecimento por estar tendo aquela preciosa conversa com o caboclo deslizavam aos borbotões pela face de Ligia e esta emoção tão bonita e sincera a impedia de proferir qualquer resposta em relação à indagação feita pela entidade e ela, assim, só pôde respondê-lo positivamente acenando com a cabeça.
O caboclo então continuou a conversa dizendo:
— Caboclo agradece a Tupã pela parceria entre suncê e este caboclo e respeita cada lágrima de gratidão ao Criador que está deslizando pelo seu rosto, mas deve solicitar licença por um breve instante neste seu processo de agradecimento para pedir a suncê que devolva o pito deste caboclo para que ele possa participar de mais uma roda de descarrego em nome da caridade ao próximo.
As lágrimas continuavam a escorrer pelo rosto de Ligia e ela, assim, só pôde estender as mãos para devolver o charuto sem nada conseguir dizer a entidade.
A entidade pegou o charuto nas mãos, deu as costas para Ligia, andou um passo a frente e ficou parado de costas para sua cambone.
Talvez fosse para substituir um pouco daquelas lágrimas de alegria por um sorriso singelo feito da mesma emoção, talvez não, o fato foi que o caboclo novamente virou-se de frente para Ligia e disse:
— Pensou que caboclo houvesse se esquecido desta vez não é fia Ligia? Mas este caboclo não esquece nunca de agradecer a suncê por haver segurado por mais uma vez o pito dele. Que Tupã abençoe em dobro toda a atenção que suncê dispensa a este caboclo nesta nossa parceria e que seja abençoada também a parceria que Tupã tem com todos nós através da nossa sagrada e amada religião de Umbanda.
Ao que Lígia, já um tanto refeita em suas emoções, respondeu:
— Que assim seja!!!!!
Quimbanda com “Q” e Kimbanda com “K”
Hoje em dia se fala assim:
Quimbanda com “Q” e Kimbanda com “K”.
A palavra Kimbanda vem da língua Kimbundu, é uma língua falada em Angola.
Em Angola havia a figura do Kimbanda, o Xamã Angolano, esse Kimbanda se escreve com “K”.
A Kimbanda angolana é considerada Xamanismo. Trabalha com Tatás, Yaias, divindades, espíritos, fórmulas mágicas, rezas. Essa prática Xamanica angolana é chamada de “Umbanda”.
A palavra Umbanda também existe em Angola e define a prática religiosa do Kimbanda, mas é diferente de nossa Umbanda brasileira. Em Angola não existe culto aos Orixás.
O Kimbanda angolano não sofreu influencia do Cristianismo e nem do Espiritismo, portanto é uma prática totalmente diferente de nossa Umbanda brasileira.
É diferente ainda, a prática do Kimbanda, do Candomblé de Angola que é outra forma/estrutura, religiosa.
No Brasil surgiu a Quimbanda, com Q, a fim de designar os trabalhos de Esquerda da Umbanda.
Hoje em dia a língua oficial em Angola é o Português, poucas pessoas falam o Kimbundu. É importante ressaltar a questão da palavra para dizer:
“A origem da religião de Umbanda não está no mesmo lugar da origem da palavra Umbanda”.
Os Terreiros de Quimbanda são assim denominados por trabalharem, exclusivamente, com a linha de Esquerda da Umbanda ( Exus – Pomba Giras), nem por isso significa dizer que trabalhem para o mal.
Existem, porém, outros terreiros, casas, onde se pratica a magia negra e esse trabalho é também chamado de Quimbandeiro.
O primeiro Umbandista a comparar Exus com demônios e os colocar como servos do mal ou algo muito parecido com a magia negra Européia, os demônios fazem parte da magia negra Européia, foi Aluízio Fontenelle.
Em seu livro “Exu” publicado em 1951, ele traz a magia negra Européia, a compara com Exu e Pomba Gira, faz um sincretismo de demônios com Exus e aí surge a estrutura da Quimbanda que trabalha com magia negra e Exu ao mesmo tempo, dando nomes de Exus aos demônios, usando símbolos e signos da magia negra Européia surgindo assim a Quimbanda Brasileira com estrutura de magia negra Européia.
Não se pode confundir essa com outra Quimbanda ainda, também com “Q” que é a Esquerda da Umbanda.
A essas alturas podemos entender a razão pela qual o termo Kimbanda e Quimbanda geram tanta confusão e mal entendidos porque temos:
Kimbanda = Xamanismo Africano que pratica o bem.
Quimbanda = Esquerda da Umbanda.
Quimbanda = Terreiros que trabalham apenas com a Esquerda.
E há quem pratique magia negativa ou magia negra usando os nomes das entidades da Esquerda, de Exu, de Pomba Gira, classificando isso como um trabalho de Quimbanda.
Assim como é muito difícil definir um bom trabalho de Umbanda, tentar definir a Quimbanda é tão ou mais difícil. A separação do joio do trigo é uma tarefa bastante árdua.
Quem é o Caboclo Quimbandeiro?
É um Caboclo de Esquerda?
Preto Velho Quimbandeiro, é um Preto Velho de Esquerda?
Caboclo Quimbandeiro é um Caboclo que trabalha junto com a Esquerda, é um Caboclo que tem especialidade em cortar demanda.
Existem linhas de Caboclos que são consideradas Linhas clássicas enquanto Caboclo Quimbandeiro como Caboclo Pantera Negra, em Terra, geralmente vem voltado só pra quebrar demanda, desmanchar trabalho de magia negativa, não é comum ver um Caboclo Pantera Negra dando consulta.
Temos Caboclos que são Caboclos demandadores, que muitas vezes passam a ser tidos como Caboclos Quimbandeiros e temos também os Caboclos Africanos, principalmente, a Linha de Arranca: Arranca Mata, Arranca Mar. Os Caboclos que trazem esse nome “Arranca” são todos eles muito demandadores e considerados um pouco Quimbandeiros como o próprio Caboclo Cobra Coral, Caboclo da Pedra Preta, como o Caboclo Arranca Toco, Caboclo Ventania, Caboclo Ubirajara Peito de Aço, Caboclos Quimbandeiros no sentido da palavra: de demandadores.
Preto Velho Quimbandeiro são aqueles Pretos Velhos que vem nessa força, de trabalhar junto com a Esquerda e de trabalhar quebrando demanda, o Preto Velho Quimbandeiro mais conhecido ou aquele Preto Velho que é considerado o mais demandador, o mais cortador de demanda porque é, não que isso faça dele mais ou menos do que os outros Pretos Velhos, mas porque é uma especialidade, é o “Preto Velho Rei do Congo”.
O Rei do Congo está para os Pretos Velhos Quimbandeiros, assim como Pantera Negra está para os Caboclos Quimbandeiros.
Ou Preto Velho “Pai Cipriano” que faz lembrar aquelas questões relativas ao “Livro de São Cipriano”.
O livro de São Cipriano é considerado um livro de magia negra, mas no livro de São Cipriano a primeira coisa que você lê é a história de São Cipriano e a história de São Cipriano é linda, é uma história que conta que antes ele praticava magia negra, o Cipriano, mas em algum momento ele tentou pela magia negra converter uma Cristã e convencê-la por meio da magia a se casar com alguém, é aquilo que hoje se chama trabalho de amarração.
Talvez, na Quimbanda, se trabalhe com alguns Exus que apareciam muito na Umbanda do passado e que hoje não aparecem muito nos Terreiros de Umbanda como: Exu Gargalhada, Exu do Pó, Exu do Ouro, que são Exus que militam na religião de Umbanda, mas que há trabalhos voltados especificamente para a Esquerda, um trabalho voltado só para a Esquerda pode ser considerado, sim, um trabalho de Quimbanda com “Q”, desde que, não se confunda com magia negra.
Isto é a Kimbanda Africana, a Quimbanda da Umbanda e a Quimbanda sincretizada com a magia negra Europeia.
Logo podemos considerar que há algo da Quimbanda que faz parte da Umbanda, mas Umbanda não é Quimbanda, não se resume em Quimbanda. Mas, temos sim, a nossa Esquerda como trabalhadores que podem ser chamados e considerados: Exu e Pomba Gira trabalhadores de Quimbanda, no bom e nobre sentido da palavra.
Annapon
19.11.2014
(texto baseado em aula do Curso de Teologia de Umbanda Sagrada – Alexandre Cumino)
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