quarta-feira, 24 de junho de 2015

Mitos sobre Exu



Muitas coisas são ditas e muitos textos são escritos sobre o trabalho dos Exus na Umbanda. Com isso, muitos mitos foram criados, alguns até absurdos e deturpadores, por pessoas que não entendem o verdadeiro trabalho do Exu, na Umbanda, ou não entendem a verdadeira missão da Umbanda, nesse planeta.
Com esse texto, vamos tentar explicar e quem sabe até, desmistificar esses mitos que confundem a cabeça e o aprendizado daqueles que se propõem bem servir sua religião: A Umbanda. 
A Umbanda em sua dinâmica básica, lida com espíritos dos mais variados graus de evolução. As Entidades, Guias e Mentores que se apresentam nos terreiros exercem um trabalho incansável contra as forças trevosas.
Na Umbanda, a origem de Exu está em função da necessidade de existirem Guardiões, encaminhadores e combatentes das forças negativas. Trabalho básico da nossa religião. Por isso é que se diz que, “Sem Exu não se faz nada”. Isso, não porque Exu não deixa, porque é vingador, traidor ou voluntarioso, como querem fazer pensar algumas estórias que se contam por aí. Mas sim, porque não há como combater as forças negativas e trevosas, sem a devida defesa e proteção.
Muitas pessoas perguntam: “Então nossos Guias (Caboclos, Pretos-velhos, etc...) não nos protegem e defendem? Só os Exus fazem isso? E a resposta vem da própria Espiritualidade: -” Logicamente que os Guias lhes defendem e lhes protegem, entretanto, cabe a Exu o primeiro combate, o combate direto contra as energias que circulam no Astral Inferior. Esta é a especialidade de Exu, pois ele conhece profundamente todos os caminhos e trilhas desse ambiente energético. É a sua função primeira”.
Tudo na Umbanda é organizado, coerente e lógico!!!
Outro mito, que muito confunde os iniciados na religião, diz respeito à Confiabilidade de Exu.
Muitas pessoas, que vão a um terreiro em busca de ajuda ou socorro para assuntos materiais e até espirituais, são surpreendidos, quando em consulta, lhes é dito que estão sendo vítimas de “trabalho feito”, que esse “trabalho” foi feito por um Exu, e outros vão mais além, dizendo que o Exu “malfeitor” é o Sr. Fulano de Tal (geralmente um Exu famoso, de nome e fama conhecidos). Bom, aí vem a incoerência!
Se nós, Dirigentes e Orientadores espirituais falamos que Exu não é traíra, é combatente das forças trevosas, conhecedor e manipulador dos segredos da magia. Como pode, esse mesmo Exu, ser aquele espírito que usa indevidamente seus poderes e conhecimentos para prejudicar pessoas indefesas?  Como pode esse mesmo Exu, não ter nenhuma aspiração evolutiva, ser manipulado pela vontade das pessoas que desejam prejudicar seus semelhantes, a bel prazer? Como pode esse mesmo Exu, usar seus conhecimentos e poderes contra si próprio, já que, com certeza, arcará com as conseqüências dos seus atos? Como pode, esse mesmo Exu, tido como o Mensageiro dos Orixás, Guardião dos segredos e dos caminhos da Espiritualidade, trair a confiança dos Espíritos de Luz e anular toda a caridade praticada pelos seres da Espiritualidade positiva?
A resposta é uma só e unânime:  - “O tal” trabalho feito” não foi realizado por um Exu e sim por um obsessor, agente das forças negativas e trevosas que se fez passar pelo “Sr. Fulano de Tal”. Aliás, obsessor pode se fazer passar por tudo, inclusive por um Mensageiro de Orixá, Caboclo, Preto-velho, etc. Cabe ao Dirigente Espiritual, ou aos médiuns mais preparados e evoluídos, desvendarem essa farsa, até porque não existe farsa perfeita, sempre haverá um detalhe, ou um momento, em que “a casa caí” e a farsa é descoberta.
Mas então, porque muitos obsessores se fazem passar por Exus de Lei ? Porque em alguns casos, ou em algumas Casas, a farsa não é descoberta, e os nossos amigos e protetores, Exus de Lei, acabam sendo acusados ou confundidos, como malfeitores, desonestos, traíras, etc.?
Na maioria dos casos, isso acontece por causa de médiuns invigilantes. Médiuns despreparados e pouco compromissados com o Astral Superior. Médiuns orientados e “treinados” por Dirigentes também, despreparados e  pouco compromissados. Muitos médiuns e Dirigentes, procuram e buscam nos Terreiros uma forma de satisfazer as suas baixas aspirações, como válvulas de escape para fazerem “incorporados”, o que não tem coragem de fazer de “cara limpa”. Médiuns de moral duvidosa, que se aproveitam da condição de “incorporados” para gritar, falar palavrões, beber e fumar exageradamente, dançar de forma grotesca para uma Casa religiosa e praticar atos pouco aceitáveis em situações “normais”. Esses médiuns imputam aos Exus, os seus desvarios e desvios de comportamento, complementando ainda que não se lembram de nada, que a responsabilidade é do Exu, e não dele (médium).
Na realidade, esses médiuns estão sofrendo a ação da incorporação de kiumbas (espíritos trevosos, moralmente atrofiados, que não tem a mínima aspiração evolutiva e buscam apenas, tumultuar o ambiente).
Nunca um Exu ou Pomba-Gira de Lei, irá se prestar a um papel desses!
Outro ponto de muita confusão: A incorporação de Exu.
Afinal, com que Exu trabalhamos? Se todo Exu é Guardião dos segredos e dos caminhos, quando incorporado no seu médium, realizando algum trabalho, como fica a sua missão de Guardião? Ele não está “guardando” nada?
Normalmente, os Exus com os quais trabalhamos, são os chamados “Exus de Trabalho”, de defesa pessoal do médium. Esses Exus de Trabalho”  são também, integrantes participativos da “Equipe de Defesa da Casa”, que o médium freqüenta. São colaboradores e participam ativamente junto ao Exu Guardião da Casa, no combate às forças inferiores e invasoras. Mas, o Exu de Trabalho também tem outro compromisso, que é proteger, defender e direcionar positivamente o seu médium, segundo a Doutrina da Casa, da qual faz parte.
Por isso, respeitam a Casa, suas normas e doutrina e não induzem o médium a embriagues, algazarras e demais comportamentos chulos, torpes e deselegantes.
Exus de verdade, são espíritos em busca de evolução, que embora tidos como “Espíritos sem Luz”, possuem certo de grau de positividade, de compreensão do que é certo ou errado, perante a Espiritualidade e de acordo com Leis Superiores. São espíritos altamente compromissados com os Orixás Superiores, com os Guias e Protetores do próprio médium e com toda Egregóra de Luz da Casa, na qual o médium está inserido. Trabalham diretamente com esta Egregóra, auxiliando no combate e encaminhamento dos espíritos que são atraídos pela corrente de desobsessão do Terreiro que fazem parte.
No entanto, cabe aqui salientar que o estágio evolutivo de um Exu de Trabalho está abaixo do estágio evolutivo de um Caboclo ou de um Preto-velho. Isso não significa que não sejam evoluídos, apenas encontram-se num estágio abaixo. Sua energia é mais densa. Conseqüentemente, a sua vibração ou energia de incorporação está mais próxima (ou é mais parecida) á vibração da Terra, exigindo do médium uma “doação” maior de energia mental e física, diferente da incorporação de um Caboclo ou Preto-velho, ou até mesmo outro mensageiro enviado de Orixá. Ou seja, quando um médium vai incorporar um Exu, ele tem que se concentrar muito para sintonizar sua vibração a vibração do Exu, sendo que o Exu faz a mesma coisa, sintoniza sua vibração à do médium.
Outro aspecto importante é que, embora Exu esteja num estágio evolutivo abaixo dos Espíritos de Luz, nada impede que Exu trabalhe harmoniosamente com os Guias mais evoluídos e até mesmos com os Mensageiros dos Orixás, até porque além de trabalharem sob as ordens desses Mensageiros e dos Orixás Maiores, a questão “hierarquia” é muito bem resolvida no Astral. Lá não existem “disputas” pelo poder ou por cargos;  não se questiona quem manda e quem obedece. Todos são e estão conscientes os seus papéis e do trabalho que precisa ser realizado. Todos sabem que devem trabalhar com o mesmo objetivo: A Caridade !
Quando incorporados em seus médiuns, Exus e Pombas Giras podem se apresentar de duas maneiras básicas: alegres ou sérios. O que não significa, que mesmo quando são alegres, são também debochados, desrespeitosos, com comportamentos inadequados a uma Casa religiosa.
Geralmente, quando um Exu ou Pomba Gira se comporta de forma inadequada, ele está na verdade, sendo influenciado pelo comportamento desajustado do seu médium, que disfarça ou se controla, quando não está “incorporado”. Esse médium invigilante e portador de comportamento e moral duvidosos, ao receber a energia de incorporação de um Exu ou Pomba Gira (que começa a se dar através da aproximação do mesmo), por ser uma energia muito parecida a nossa e por estar mais próxima da crosta terrestre, onde o combate com o Astral inferior se dá, passa a dar vazão aos seus sentimentos menores influenciando e interferindo diretamente na incorporação do Exu ou Pomba-Gira, que assiste a tudo sem poder fazer nada (aqui, também cabe o livre arbítrio). Esse médium transfere para o Exu ou Pomba Gira sentimentos e comportamentos que, na verdade, são seus.
Isso não é mistificação (fingimento), porque existe a energia do Exu ao lado ou perto do médium. A mistificação envolve o fingimento puro e simples, sem envolvimento de energia ou proximidade de Entidade alguma. Mas existe, o que se chama de Animismo, a transferência voluntária de desejos e comportamentos do médium para o seu Guia.
A incorporação de Exu e Pomba Gira envolve a manipulação energética de chackras inferiores, e o que acontece no caso do Animismo, é que o médium deliberadamente, utiliza mal essa energia. Isso envolve também, intenção, moral, má fé e mau aproveitamento da energia de Exu.
Com a continuidade da insistência do médium em se utilizar dessa energia para a manifestação de seus desejos e comportamentos menores, em pouco tempo ocorre a “queda do médium”. O Exu de Trabalho se afasta do médium e fica o que ?  - Fica o kiumba, que assume o nome do Exu de Trabalho e contribui para o aumento dos desvarios do médium.
Muitas vezes, o médium não percebe que está acontecendo essa “transferência”, porque ele usa a energia do kiumba (aliás, um usa o outro) para falar e fazer coisas que normalmente, não tem coragem de fazer no seu estado normal.
Cabe ao Doutrinador e Orientador da Casa (Dirigente) coibir veementemente esses comportamentos logo no início, ou seja, no médium e assim que começam a acontecer. Nesse caso, a orientação e a desestímulo de atitudes e comportamentos desse tipo é o melhor remédio. Mas, caso haja persistência, a adoção de medidas drásticas deve ser a melhor atitude que o Dirigente da Casa deve assumir.
CAPACIDADE DE MANIPULAÇÃO ENERGÉTICA DE EXU
Já foi comentado anteriormente, que Exu possui uma grande capacidade de manipular energias, transfigurando-se em formas diferenciadas de acordo com o ambiente que está.
Um bom exemplo disso é Exu se apresentando aos obsessores que irá combater em forma que desperte medo e/ou respeito. Ele não poderia se apresentar aos seus inimigos como se fosse um jovem ingênuo ou indefeso adolescente, dessa forma, ele jamais intimidaria ninguém. Então, ele assume formas rudes e assustadoras. Entretanto, ele  faz isso por estratégia e não por ser deformado, e muito menos  tem chifres, rabo, etc..., como é retratado em diversas imagens que encontramos em casas de artigos religiosos. A forma original de Exu é humana, nada tem de partes de animais ou monstros, porque os espíritos que compõe a Falange dos Exus são espíritos como nós, de épocas recentes. Foram homens e mulheres normais, das mais variadas ocupações e profissões.
Então, porque Exu manipula energias para assumir outras configurações “físicas”? E como faz isso?
Em função do trabalho que irá executar ou da “batalha” que irá travar, Exu estuda o ambiente que irá entrar e em seguida, vibrando numa faixa bem acima do meio que irá adentrar, estuda seus “adversários” , suas intenções, seus planos, seus graus de compreensão e entendimento, seus medos, etc. Estabelece uma estratégia e assume a configuração que irá atingir o ponto fraco da maioria do grupo que irá combater, ou de alguém em especial. Lembrando que, Exu não trabalha sozinho, isso é feito em agrupamentos sob a supervisão de um Mensageiro de Orixá. Dessa forma, Exu nos mostra sua capacidade de vibrar em diferentes faixas de energia. E para que isso aconteça, não é necessário sacrifício de animais, despachos em encruzilhadas e/ou cemitérios, porque quem “recebe” esse tipo de despacho é o kiumba. Isso dentro do ritual da Umbanda, que difere muito do Candomblé.
Com relação às “entregas” de Exu e Pomba Gira que, eventualmente fazemos a pedido deles ou por nossa própria vontade, vale dizer que os matérias usados nessas “entregas” são como uma espécie de presente ou de fortificante, já que nossos amigos da Esquerda se utilizam à energia etérea, contida nos elementos de uma “entrega” (farofa, bebidas, cigarros, etc.) para se recompor da batalha travada ou para se fortalecer, se preparando para aquilo que irão enfrentar. Muitos elementos são também representativos a uma  “gratificação pelos serviços prestados” e por isso, são chamados de muitos de “mimos”.
Depois de todas essas explicações e tantas outras que, provavelmente já recebeu, você continua achando que Exu é o Diabo?
É mais importante e necessário temê-lo e tratá-lo como inimigo? Ou respeitá-lo, conhecê-lo e tratá-lo como um grande amigo?
Se ainda lhe resta alguma dúvida, então cabe aqui mais essa afirmação: “A Umbanda nasceu do coração de Zambi (Olorum/Deus) em Sua Infinita Misericórdia por nós! Porque só a Umbanda tem quem nos defenda e proteja, independentemente da nossa ignorância em reconhecê-los como bons e amigos!”.
Ao invés de temê-los e distorcer suas verdadeiras intenções e missões para conosco, deveríamos agradecê-los pela proteção, defesa, amizade, carinho e principalmente pela paciência com a nossa ignorância!
Laroyê, Exu !     Mojubá, Pomba-Gira !
Salve nossos amigos, defensores e protetores !
(Texto extraído do Jornal Umbanda Sagra

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